Rádio digital : IBOC versus DRM                    Por Roland Zurmely, PY4ZBZ

 

 

Não é preciso explicar, eu só queria entender...

 

Depois de o Brasil ter escolhido o padrão para o sistema de TV digital terrestre, chega a vez de escolher o padrão para radiodifusão digital terrestre, que agora está em fase de testes. As últimas notícias na mídia reportam, entre outras coisas, as duas informações reproduzidas a seguir :

(fonte: http://sbtvd.cpqd.com.br/ )

 

Noticia 1 :  Telecom Urgente

 

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) solicitou ontem, 20, ao Ministério das Comunicações autorização para que emissoras de rádio possam utilizar, antes mesmo da escolha oficial do padrão, o sistema americano IBOC (in-band on-channel). O pedido foi feito pessoalmente ao ministro Hélio Costa pelo novo presidente da entidade, Daniel Pimentel Slaviero. Segundo ele, a medida não atropelaria o processo de escolha do governo, que analisa também o padrão europeu, o DRM (Digital Radio Mondiale). Caso o governo viesse a optar pelo padrão europeu, as emissoras fariam a migração normalmente. Hoje 15 emissoras já fazem testes do IBOC com autorização da Anatel. Com o DRM, há apenas duas experiências em curso.

 

Noticia 2: Intervozes

 

A hora do rádio digital?

Não bastasse ter sido atendida em todas as suas reivindicações centrais em relação à TV digital, a Abert agora parte para a ofensiva em relação ao rádio.

Pedem os radiodifusores que o Minicom oficialize o padrão americano IBOC (In-band on-channel) nas transmissões digitais de rádio.

 

 

Como se trata de um assunto relativamente novo, vejamos as diferenças básicas entre IBOC e DRM.

 

O DRM (Digital Radio Mondiale) não é apenas um sistema Europeu, especificado pela ETSI (European Telecommunications Standards Institute) , mas, como o nome já diz, é um sistema mundial, normalizado pela ITU (International Telecommunication Union).

 

O IBOC é um padrão americano, que permite transmitir sinais digitais junto com os sinais atuais analógicos de AM (Amplitude Modulada). Com isso, o ouvinte que tem um rádio AM comum continua ouvindo o sinal AM normalmente, e quem tem um receptor digital, vai ouvir a transmissão digital em alta fidelidade, sintonizando a mesma freqüência da emissora AM. Na verdade, o sinal digital é situado em duas bandas de cada lado das bandas laterais do sinal AM, para não interferir nelas, mas que acaba causando inevitáveis interferências em outras emissoras de AM nos canais adjacentes.

O IBOC é um sistema híbrido e foi criado para ser usado na fase de transição do atual sistema  AM para o sistema digital, e permitir que o ouvinte de rádio digital possa sintonizar as mesmas freqüências que costumava sintonizar em AM.

 

Eu acho isso no mínimo muito estranho !

 

Vou dar um exemplo que pode até ser engraçado, mas ilustra bem o caso. Quando foi lançado o CD (Compact Disk), ele não foi feito de forma híbrida, como o IBOC. Ou seja, não tinha um lado do CD que pudesse ser tocado em antigos toca-discos com agulha, e o outro lado para ser lido de forma digital num leitor de CD !

Não faz muito sentido essa passagem híbrida de analógico para digital.

E nem a desculpa, de que o usuário não ter que memorizar novas freqüências de rádios digitais, não faz sentido, pois em rádio digital, não se sintoniza uma emissora pela sua freqüência, mas pelo seu nome. O rádio digital não tem mais aquele antigo “dial” ou um indicador de freqüência, mas apresenta numa telinha (tipo cristal liquido), os nomes das emissoras que ele está captando, bastando ao ouvinte selecionar o nome correspondente, sem se preocupar com freqüência. O rádio digital procura automaticamente em todo o espectro de ondas longas, médias e curtas, em qual freqüência a emissora desejada é melhor recebida, e ainda muda de freqüência automaticamente, sem o usuário perceber, em caso de qualquer problema de propagação (sistema AFS, Alternative Frequency Signalling). Portanto, velhos hábitos adquiridos na era do AM não devem e nem podem ser mantidos num sistema digital, muito mais eficiente e mais simples para o usuário. Em rádio digital, não é preciso perder tempo ouvindo uma determinada emissora, até o locutor resolver informar o seu prefixo ou nome, para se saber se é realmente essa a emissora que queremos ouvir, pois em rádio digital, essa informação, entre muitas outras, como a programação (EPG Electronic Programme Guide), pequenos textos com noticias e imagens fixas (MM multimídia), são transmitidas continuamente e simultaneamente com a programação de áudio.

 

Outra desculpa dos defensores do IBOC, é que segundo eles, o DRM não permite transmissão simultânea (híbrida) de AM junto com digital na mesma freqüência. Será que só fingem não saber que em DRM, esse modo existe e é chamado de ”Simulcast” ?

 

Outro ponto negativo, além dos sérios problemas de interferência pelos quais passa o IBOC nos Estados Unidos (único pais a usá-lo), é que ele é um sistema fechado, proprietário, que ninguém pode modificar ou melhorar, a não ser os seus donos (no caso a iBiquity Digital Corporation), que evidentemente cobram “royalties” que o Brasil terá que pagar.

 

Já o DRM é um sistema aberto, de uso livre, com especificações técnicas claras e disponíveis para todo mundo. Na Europa e em muitos países de outros continentes, já existem muitas emissoras DRM, e que optaram não usar sistema híbrido, mas passar diretamente para o sistema exclusivamente digital, em novas freqüências. Nisso, o IBOC (ou o Simulcast DRM) só leva a vantagem de não necessitar de novas freqüências e as respectivas licenças, mas acontece que cada emissora IBOC vai ocupar pelo menos o dobro da banda atual AM, causando interferências em outras emissoras já licenciadas, principalmente à noite, em ondas médias. E para DRM, existem programas “freeware” que permitem demodular o sinal digital DRM com um conversor ligado à placa de som do computador.

 

Então porque, no Brasil, pedem os radiodifusores que o Minicom oficialize o padrão americano IBOC (In-band on-channel) nas transmissões digitais de rádio ?

 

Porque pagar por um sistema problemático, se tem outro que funciona bem e é livre ?

 

Como diria o filósofo Barão de Itararé: “Há alguma coisa no ar e não são os aviões de carreira...”

 

 

 

Veja mais sobre DRM no site: http://www.qsl.net/py4zbz/