Ponte Nova - sua história
Em 1755, chegou á região
Miguel Antônio do Monte Medeiros, com uma carta de sesmaria, datada de
27/02/1755, fundando, no ano seguinte, a fazenda da Vargem Alegre. Já em
agosto de 1756, chega seu irmão, Sebastião do Monte Medeiros da Costa
Camargo e funda a fazenda do Córrego das Almas, tendo assumido o comando das
ordenações do Distrito de Ponte Nova.
Em 1763, chega João do
Monte Medeiros, recentemente ordenado padre, instalando a fazenda do
Vau-Açu, dotando-a de uma "casa-sede", uma senzala, um depósito e um curral
de porcos. Ainda hoje persiste a construção, conhecida como sede da Usina
Santa Helena. Junto com esses pioneiros, vieram vários outros sesmeiros, que
foram expandindo o desenvolvimento regional.
A agricultura e o comércio
constituíram por muitos anos as principais ocupações dos habitantes. Em 1860
foi introduzido no município o primeiro engenho de açúcar, com moenda
horizontal de ferro. Em 1886 inaugurou-se a Usina Anna Florência, que veio a
consolidar, juntamente com outras usinas, uma fase de expressivo
desenvolvimento agroindustrial, baseado na cultura da cana e sua
transformação em açúcar e álcool. Com o declínio destas atividades, a partir
dos anos 70, permaneceu apenas a Usina Jatiboca, no município de Urucânia,
emancipado de Ponte Nova. Com o padre João do Monte, vieram sua mãe, D.
Maria da Costa Camargo, e sua irmã, Catharina do Monte, que formaram as
fazendas Santa Rita e Mata-Cães, respectivamente. Com a morte da matriarca
dos Monte Medeiros, na década de 60 daquele século, sua fazenda passa a seus
filhos, por herança. Em seguida, o padre João solicita ao bispado de Mariana
autorização para construir uma capela, que foi conferida em 1º de julho de
1770. Depois de seis meses, a capela é erguida no local onde hoje se
encontra a Matriz de São Sebastião, antes denominada capela de São Sebastião
e Almas de Ponte Nova. Com esse fato, nosso então arraial adquiriu
personalidade canônica, que determinou, jurídica e administrativamente, a
situação do lugar. Um documento antigo relata: "O padre, não se limitando em
erigir e paramentar o templo dota-o também de um cemitério e doa à Igreja
uma porção de terra, desmembrada de sua fazenda, em 15/12/1770, atitude que
permitiu o surgimento de Ponte Nova, dentro dos padrões da época, inserida
no contexto da província. Este dia deveria ser, portanto, a data correta da
fundação de Ponte Nova e deveria ser comemorado como tal, reverenciando a
memória daquele que, com seu desprendimento e idealismo, a fundou". Sobre o
fundador de Ponte Nova, pode-se dizer que era homem austero, de gênio forte
e indômito.
Sabe-se que suas respostas
eram cheias de dignidade e de respeito, mas francas, arguindo personalidade
feita e caráter de boa têmpora. Ele nasceu no dia 08/08/1730, em São Caetano
de Mariana, sendo o quarto filho do alferes João do Monte Medeiros e de D.
Maria da Costa Camargo. Há notícias de que o padre João administrava suas
terras com muita fibra e energia e que dava exemplo aos seus escravos de
como deveriam trabalhar, a ponto de pegar literalmente "na enxada". Não se
sabe ao certo quando faleceu e nem onde repousam seus restos mortais, se sob
o altar da capela de Ponte Nova - aquela mesma que ele construiu ou em um
pequeno cemitério de uma das fazendas da família, provavelmente a do Córrego
das Almas.
OS PRIMÓRDIOS DA CIDADE
Com o declínio irreversível
da produção do ouro, por volta dos anos 1741 a 1761, muitos mineiros
passaram a procurar outras atividades de subsistência. A mão-de-obra foi,
cada vez mais, sendo absorvida com o extrativismo do diamante, com a lavoura
e com a criação de gado. Desse modo, foram sendo instaladas fazendas em
número crescente e, já em 1785, o plantio de cana se tornou comum entre os
fazendeiros da região. Inicialmente fabricava-se o açúcar mascavo, o
açúcar-de-forma e aguardente, por meio de pequenos engenhos verticais, muito
rudimentares e movidos por rodas d'água. Remonta a esse período o início das
atividades de plantio de cereais e de pecuária. É dessa época o início da
construção de um pequeno núcleo habitacional sendo formado ao redor da
capela "primeva", com moradias de maior porte e de arquitetura um pouco mais
trabalhada. No novo povoado, dois segmentos distintos possuíam moradia: os
proprietários de terras e os prestadores de serviços (comerciantes,
alfaiates, carpinteiros etc.). Provavelmente, uma das primeiras ruas a ser
delineada foi a atual Avenida Caetano Marinho. Ainda nesta fase, nota-se a
presença constante de índios - os botocudos, que eram uma ameaça às fazendas
contra as quais produziam ataques sistemáticos. Os puris eram mais pacíficos
e já aceitavam se agregar às fazendas, mantendo diversas aldeias nas
proximidades, entre elas uma no alto do morro do Pau d’Alho, onde hoje se
encontra o Colégio Salesiano Dom Helvécio. A partir de 1781, depois que
assumiu o Governo da Província de Minas Gerais Dom Rodrigo José de Menezes,
os caminhos e estradas para nossa região foram sendo melhorados e foi
construída uma ponte sobre o Piranga, em substituição à anterior, uma das
primitivas pontes. A construção da nova ponte, bem mais ampla, segura e "de
bom alvitre", aumentou em muito o fluxo de viajantes por toda a área, com o
incremento das relações comerciais em diversos sentidos. Há registro de que
os primeiros povoadores de Ponte Nova "de que se tem notícia certa", foram
os Monte, os Lanna-Marinho, os Toledo, os Toledo-Pisa, os Godói e os
Romeiro. Depois, no decorrer dos anos, muitas outras famílias foram se
transferindo para cá, contribuindo com a definitiva formação do lugar, mercê
de sua intensa participação no crescimento e progresso da região. Como
visto, fica plausível o caráter eminentemente agropastoril que caracteriza
os fundadores dessas plagas - todas as famílias que ajudaram a escrever as
primeiras páginas da história da cidade, história essa que se confunde com a
história da FAZENDA. Vale a pena recordar o nome de fazendas antológicas
como as do Pontal, Xopotó, do Engenho, da Paciência, Quebra-Canoas, dos
Quartéis (região atual de Amparo do Serra), entre outras. As grandes
fazendas se estabeleceram e com elas veio o "grande ciclo da cana, e do
café, em menor proporção", e demonstraram a vocação agrícola de Ponte Nova e
região. Eram produtos com cotações que subiam cada vez mais no mercado de
produção. Dos oriundos da cana, o açúcar era o que liderava as expectativas,
garantindo o comércio externo e bons preços em Mariana e Ouro Preto. Isso na
segunda década de século XIX. Ficou dito que o nosso açúcar chegava a
mercados distantes, como, na época, o de Barbacena. A produção de
aguardente, então, era quase toda consumida na região, muito apreciada pelos
trabalhadores braçais e o excedente da produção do arraial era
comercializado em Barra Longa, Furquim, Mariana e Ouro Preto,
principalmente, transportado por tropas de burros. Atualmente, Ponte Nova
busca novos caminhos de desenvolvimento. A suinocultura, muito desenvolvida
na região e uma das mais tecnificadas do país, deu origem ao Frigorífico
Industrial Vale do Piranga (Frivap), que está sendo implantado no município
por um grupo de suinocultores, com apoio do Estado, da Câmara e da
Prefeitura. O comércio atacadista de armarinhos é outro segmento importante
para a geração de emprego e renda, distribuindo produtos em todo o país, em
cerca de 6.500 localidades e com mais de 80 mil clientes cadastrados. No
setor de serviços destaca-se a saúde, com vultosos investimentos em
modernização tecnológica pelos hospitais particulares, que mantêm planos se
saúde em ampla rede nacional, implantação da gestão plena pelo SUS e do
Hemominas regional, além da existência de Consórcio Intermunicipal de Saúde
com sede em Ponte Nova. O município sedia também a Região Administrativa do
Vale do Piranga e a Associação dos Municípios do Vale do Piranga (AMAPI).
CONHEÇA A ESTRUTURA DA
ACADEMIA DE LETRAS DE PONTE NOVA - ALEPON
O nome "Academia" vem de
"Academas", cidadão grego que plantou um parque próximo a Atenas, na Grécia.
Nesse parque, Platão fundou uma escola de Filosofia, a sua Academia Grega,
que funcionou entre 387 aC. e 529 d.C. Em Literatura, academia significa
reuniões de homens de letras e artistas com fins meramente estéticos.
Segundo, Aurélio (Novo Dicionário), academia quer dizer, ainda, "Escola onde
se ministra o ensino de práticas desportivas (...), Sociedade ou agremiação,
particular ou oficial, com caráter científico, literário ou artístico.”.
O QUE É ALEPON:
A Academia de Letras de
Ponte Nova- Alepon – foi fundada em 13/06/94, tendo, então, como patrono
Santo Antônio de Pádua, monge português, que nasceu em 1231, e morreu aos 36
anos de idade, na cidade de Pádua (Itália). A Alepon surgiu da necessidade
de incrementar-se a cultura em Ponte Nova o que motivou um grupo de
intelectuais a realizar as primeiras reuniões no EC Palmeirense, elaborando
estatuto, regimento interno etc. Este grupo foi liderado por Kleber Rocha,
Luciano Sheikk, Dorothéia Bernardes Pinto Coelho, Maria Neuza Neip e Ricardo
Motta, além de outros. A entidade é formada por 40 cadeiras, das quais vinte
estão preenchidas pelos sócios- fundadores (acadêmicos). Para ingressar na
Alepon, é necessário que o interessado, através de um dos acadêmicos,
apresente obras de sua autoria, devidamente publicadas, mesmo que não sejam
em livro, as quais serão examinadas pelo Conselho Superior. O candidato deve
residir, pelo menos, há cinco anos em Ponte Nova.
SÓCIOS- FUNDADORES:
Antecipa o nome de cada
acadêmico o número da sua cadeira na Alepon:
1. Kleber Rocha
2. Salvador Ferrari
3. José Carlos Itaborahy
Filho
4. João Bosco dos Santos
5. Luciano Sheikk
6. Hilka Pires Barcelos
7. Adail Lindalva Machado
Fonseca
8. Dorothéa Bernardes Pinto
Coelho
9. José Camilo Filho
10-José Pinto Coelho
11-José Rodrigues da Cunha
Filho
12- Laene Teixeira Mucci
13- Lindaura Primavera
14- Ludovina Conceição
Aparecida Rodrigues Pires
15-Maria Auxiliadora
Marliere de Souza
16-Maria Dias Moreira
(Nenzinha Moreira)
17- Maria Mazarelo Lanna
Martins Mafra
18- Maria Neuza Kneip
19- Miracy Ferreira Real
20- Ricardo Motta de Almeida
PRIMEIRA DIRETORIA:
A primeira Diretoria da Alepon foi provisória, aquela
que promoveu as atividades iniciais até a eleição e posse da Diretoria
definitiva (outubro/94 a outubro/96). A Diretoria Provisória, gestão de 6/94
a 10/94, foi a seguinte:
Presidente: Kleber Rocha
Vice- Presidente: Salvador Ferrari
Secretário: José Carlos Itaborahy Filho
Tesoureiro: João Bosco dos Santos
Chefe de Protocolo: Luciano Sheikk
Oradora Oficial: Hilka Pires Barcelos
OS PRIMEIROS HABITANTES
Certamente, foram os índios
aimorés e puris os primeiros habitantes da região onde hoje estão situados
Ponte Nova e municípios vizinhos. Os aimorés, em maior número na época das
primeiras incursões do homem branco, eram também conhecidos como botocudos,
apelido derivado do uso, que eles faziam, de botoques. Estes acessórios eram
peças arredondadas, às vezes até de grandes dimensões, que fixavam nos
lóbulos das orelhas e nos lábios, conferindo-lhes uma aparência
particularmente assustadora. Os botocudos também se caracterizavam por sua
bárbara violência. Em várias citações consta que esses indígenas tinham o
costume da antropofagia, atacando impiedosamente quer uma aldeia dos puris
ou dos Goitacazes, seus adversários tradicionais, quer uma caravana de
viajantes ou, mesmo, as fazendas dos colonizadores, destruindo, com fogo,
tudo o que encontravam em seu caminho; depois se regalavam, em lautas
cerimônias andrófagas, com seus prisioneiros.
O botocudo é citado na
Enciclopédia Delta Universal como sendo "o nome de vários grupos indígenas
brasileiros de línguas diferentes, pertencentes ao tronco Macro-Jê, que no
século XVI habitavam as costas das capitanias hereditárias de Ilhéus e Porto
Seguro, possivelmente vindos do interior. Alguns destes grupos sobreviveram
até o século XX nas matas localizadas entre o rio Jequitinhonha e o vale do
rio Doce, nos Estados da Bahia, de Minas Gerais e do Espírito Santo. Os
remanescentes dos grupos dos rios Mucuri e Jequitinhonha foram reunidos na
missão de Itambacuri, em Minas Gerais, e ai desapareceram. Os grupos do rio
Doce, pacificados em 1911, foram recolhidos a postos situados no Espírito
Santo e em Minas Gerais. Os botocudos são também chamados aimorés, boruns ou
guerens".
Aurélio Buarque de Hollanda
afirma que botocudo é "indígena da tribo dos botocudos, de Minar Gerais,
Espirito Santo e Bahia (Aimorés), a qual usava botoque, e cuia língua,
antigamente considerada como Je, é hoje tida como isolada.”.
Os padres jesuítas já
tentaram classificar os índios brasileiros, agrupando-os de acordo com a
região que habitavam e a Língua usada por eles. Inúmeros antropólogos vêm
criando classificações diversas, todas, entretanto, tendo como base a
linguística e desconsiderando, quase que por completo, as demais
características culturais. A grande diversidade dessas características, com
certeza, impede que o trabalho de classificação do indígena do Brasil seja
concluído de forma mais ampla e cientifica. Atualmente, considera-se a
classificação do professor Aryon Dall'Igna Rodrigues como uma das mais
completas. O estudo do professor Dall'Igna também utiliza os princípios
linguísticos e estabelece seis grupos ou troncos.
O tronco Macro-Jê, ao qual pertencem os botocudos, ou
aimorés, é subdividido em cinco famílias:
"Família Jêr Família
Maxacali: Língua dos Maxacali, Família Fulnio: Língua dos Fulnio; Família
Bororó: Língua dos Bororó Língua não classificada em família: Língua dos
Karajá". Todos os narradores que acompanhavam as Entradas e as Bandeiras e
tinham a desventura de encontrar os botocudos deixaram registradas a
violência e a agressividade desses indígenas. Mesmo o intrépido bandeirante,
enfrentando com coragem e determinação toda espécie de perigos, de quando em
vez alterava o trajeto a ser percorrido para evitar o encontro com esses
aborígenes. Vários historiadores também citam violentos ataques dos
botocudos. O cônego Raimundo Trindade, falando sobre a instalação de uma
paróquia em Abre Campo (MG), cita os botocudos: "Dom Frei João da Cruz, por
provisão de 15 de outubro criou ali (Abre Campo) uma freguesia com título de
Santa Ana e Senhora do Rosário da Casa da Casca. Esta paróquia, no entanto,
não pode manter-se por muito tempo, em razão, sobretudo de haver sido quatro
ou cinco vezes atacada e uma literalmente arrasada a fogo pelo selvagem
botocudo".
Em uma petição para
instalar esta mesma freguesia, José do Valle Vieira argumenta “... que ele
suplicante e os mais moradores do mesmo Arrayal e Rossas Vizinhas estão
necessitando de quem lhe administre os Sacramentos da Igreja e lhes dê o
pasto Spiritual, havendo dai grande distância e dificuldades de caminhos
para as Igrejas de S.José da Barra e Furquim, como são serras muito ásperas
para passar, e perigosas, e infestadas de Gentio Brabo.”.
“Na provisão de D. Frei
João da Cruz citada anteriormente, o trecho:”. e que tendo eles suplicantes
várias vezes procurado sacerdote para lhe confessar a custa de suas
Fazendas, todos se escusaram com o temor do caminho, e gentio...", também
ilustra o humor dos índios, no caso os botocudos, abundantes na região.
OS DESBRAVADORES
No inicio da colonização do Brasil, por diversas razões
todos os interesses do Reino concentravam-se no litoral ou próximo dele.
O extrativismo, com a
produção do pau-brasil e o plantio da cana-de-açúcar, não se expandiu, logo
no princípio, pelo interior da colônia. O fator orográfico, com certeza, foi
um dos que mais desmotivaram a penetração dos colonizadores. A Serra do Mar,
que mais se assemelha a uma grande muralha, recoberta, naquela época, por
densas matas, dificultava a penetração do branco. Em 1585, Fernão Cardim,
tendo acompanhado o padre jesuíta Cristóvão de Gouveia, da Companhia de
Jesus, em uma viagem de São Vicente até São Paulo, relatou: "O caminho é
cheio de tijucos, o pior que nunca vi e sempre íamos subindo e descendo
serras altíssimas e passando rios e caudais de águas frigidíssimas". Os
rios, que na América do Norte serviram aos pioneiros nas viagens rumo ao
interior, no Brasil puderam servir tão-somente como pontos de referência. De
modo geral, os rios brasileiros oferecem poucas condições à navegação,
apresentando grande número de quedas d'água, corredeiras e formações
rochosas em seus leitos. Esse foi outro fator que atrasou a penetração do
branco no território brasileiro.
Algumas poucas expedições
foram feitas ao atual território de Minas Gerais, durante os séculos XVI e
XVII. Essas entradas foram, no entanto, muito mal registradas e, hoje,
sobram poucas informações sobre os caminhos e os acontecimentos das viagens
dos primeiros desbravadores. Na realidade, os bandeirantes, em sua grande
maioria, eram homens corajosos o suficiente para aventurar-se em regiões
desconhecidas e fortes o necessário para sobreviver às mais diversas
privações, mas suficientemente despreparados para não dar importância ao
registro e à documentação de suas viagens. Assim, toda uma bandeira vagueava
por anos, adentrando matas e sertões, sem um elemento sequer com
conhecimento de astronomia e geografia para guiá-la com exatidão. Até mesmo
a interpretação errônea da língua de uma tribo indígena fazia com que uma
expedição alterasse seu percurso, concluindo, às vezes, incursões
infrutíferas. A própria inexistência de uma pessoa responsável pelo diário e
pelas anotações das bandeiras comprometia o correto registro da viagem. Nem
mesmo os grandes historiadores conseguiram definir, com exatidão, os
caminhos destes primeiros exploradores. J. Capistrano de Abreu, comentando a
descrição de Gabriel Soares sobre a viagem de Sebastião Fernandes Tourinho,
diz: “No meio destas indicações e contra indicações, fielmente resumidas por
Gabriel Soares, é impossível uma pessoa entender-se”.
O cientista alemão W. L.
Von Exchewege, que viajou pelo interior de Minas, ocupando-se de geologia e
mineralogia no inicio do século XIX, deixou registrado o seguinte: "Em um
país inculto, onde não haviam ainda penetrado os homens civilizados, sendo
os seus primeiros descobridores privados de toda instrução científica, não é
de se admirar que estas andassem muitos dias como que em circulo, apequenas
distâncias das localidades de onde haviam partido.”.
A região de Ponte Nova
tinha como porta natural o vale do rio Doce. Por ele chegavam os primeiros
exploradores, vindos da Bahia, a procura da foz desse grande rio. Sabe-se
que Sebastião Fernandes Tourinho tenha subido o rio Doce até a sua origem.
Ora, hoje é considerada a origem do rio Doce à união dos nos Piranga, Carmo
e Xopotó, poucos quilômetros abaixo de Ponte Nova. Naquela época, então o
bandeirante considerou a "origem do rio Doce" a nascente do Piranga, do
Carmo ou do Xopotó? J. Capistrano de Abreu, no livro "Caminhos Antigos e
Povoamento do Brasil", fala que Fernandes Tourinho teria subido o rio Doce
até junto ao "Cuité".
Já Johann Moritz Rugendas,
ilustre desenhista, pintor e gravador alemão, em seu "Viagem Pitoresca
através do Brasil" (1835) afirma: "Sebastião Fernandes Tourinho foi o
primeiro português que, da costa, penetrou o interior do pais. Partindo, em
1573, de Porto Seguro, subiu o rio Doce até as proximidades de Vila Rica...”
passando, portanto e inevitavelmente - pela região de Ponte Nova. Na
"História do Brasil", de Pedro Calmon, não se reconhece o percurso exato de
Tourinho: "Largou ele (Fernandes Tourinho) em canoas de Porto Seguro,
alcançou e subiu o rio Doce (que os índios chamavam Mandij, e explorou lhe
as margens para o sul, voltando com alvissareiras noticias de pedras
verdes). É a história das esmeraldas que começa. Pretende Gabriel Soares que
Tourinho tivesse chegado à vista da Serra dos Órgãos”.
Hoje, é sabido que
Fernandes Tourinho não encontrou as esmeraldas, que foram o sonho de muitos
bandeirantes, e podemos questionar considerando o pouco conhecimento da
geografia da região e as precárias anotações que se têm da época, uma
possível confusão da Serra dos Órgãos com os picos íngremes da região de
Ouro Preto ou, mesmo, com as montanhas escarpadas da Serra dos Arrepiados
(Araponga-MG). Só depois de 1650 é que, com o incentivo dos reis de
Portugal, se intensificaram as incursões nos territórios mineiros. Já
naquela época eram crescentes os boatos da existência de verdadeiros
eldorados no interior do País. Essas expedições partiam, entretanto, sem
qualquer outro interesse que não o da descoberta de ouro e pedras preciosas.
Os desbravadores não pretendiam sesmarias e nem se interessavam em se fixar
nas terras descobertas.
Há notícias de que José
Gomes de Oliveira e Vicente Lopes foram das margens do Paraíba às nascentes
do rio Doce, passando, muito provavelmente, pelas proximidades de Ponte
Nova. Foi o bandeirante taubateano, Antônio Rodrigues Arzão, que, seguindo
os caminhos abertos por Fernão Dias Pais (1674-1681), teria descoberto a
primeira jazida de ouro nos sertões das Minas Gerais, em 1692 ou 1693.
"Antônio Rodrigues Arzão por 1692 (neto de Brás Rodrigues Arzão) andara com
cinquenta companheiros pelos mesmos rumos (bacia do rio Doce). Encontrou
deveras, no rio da Casca, areias auríferas; encheu os alforges; e descendo o
rio Doce chegou ao Espirito Santo, a Cujo capitão-mor comunicou o
descobrimento. O roteiro deu-a ao concunhado, Bartolomeu Bueno de Siqueira,
também paulista, que se pôs em campo - em 1694 - através das regiões de
Congonhas e Suaçuí". Diogo de Vasconcellos detalha a viagem de Arzão que,
após breve estada em Itaperava, alcança a Serra do Guarapiranga de onde,
pela manhã, avista os píncaros agudos de Arrepiados.
Afirma ainda que, em razão
da luz oriental, supôs mais próxima a serra. Seguindo, então, em sua
direção, encontra o rio Piranga.
"Há várias versões sobre
quem descobriu o ouro das Minas Gerais. Prevalece, geralmente, aquela que
atribui à bandeira de Antônio Rodrigues Arzão a descoberta que localizou
cascalhos auríferos nos sertões do rio Casca, por volta de 1693. Arzão
morreu logo após regressar a Taubaté. Mas deixou a seu cunhado, Bartolomeu
Bueno de Siqueira, os dados necessários para futuras expedições. Em meados
de 1694 Bartolomeu Bueno e Carlos Pedroso da Silveira, este ultimo
companheiro de Arzão, descobriram ouro na serra de Itaperava e remeteram
amostras para o Rio de Janeiro".
Com a escassez de
alimentos, Bartolomeu Bueno divide seus homens, deixando alguns sob o
comando do capitão Miguel Garcia de Almeida e Cunha a cuidar de plantações
de milho, e segue com os demais em direção ao rio das Velhas. Miguel Garcia,
enquanto aguardava a produção das lavouras, fez algumas incursões, chegando
a alcançar o rio Gualaxo do Sul, em cujo leito descobriu abundantes de ouro.
Mais tarde, e após desentendimentos com Bartolomeu Bueno, embrenha-se no
Sertão do Guarapiranga, onde, numa emboscada dos botocudos, é morto. Com
referência à Casa da Casca, citada por Arzão e companheiros, querem alguns
autores que se localizava nas imediações do Cuité, enquanto outros apontam
para aquela construção a região onde hoje se encontra a cidade de Abre Campo
(MG). Entretanto, Salomão de Vasconcelos diz que a localização exata da Casa
da Casca é nas fraldas da Serra dos Arrepiados, em Araponga (MG).
Mais uma vez, fica patente
a inexistência de qualquer acompanhamento técnico ou cientifico nas nossas
Entradas. Todos esses desencontros e escassez de informações tornam
impossível, ao pesquisador, afirmar, com exatidão, quem foram e quando
estiveram na região de Ponte Nova os primeiros desbravadores. Entre os anos
de 1695 e 1696, o bandeirante taubateano Salvador Fernandes Furtado
descobriu riquíssimas jazidas no ribeirão do Carmo e ali se estabeleceu com
Carlos Pedroso da Silveira e Bartolomeu Bueno. Logo, surgiu o povoado, para
onde afluíram aventureiros à cata do precioso metal. "Os arraiais começavam
por um rancho de tropas onde os mineradores iam fazer suas compras em mãos
dos comboieiros que levavam, do Rio ou de São Paulo, mercadorias de consumo.
Disseminados pelas montanhas e vales, os lavradores e mineradores erguiam
casas junto às capelas e aos sábados vinham nelas pernoitar com suas
famílias para no domingo assistirem a missa e fazerem suas compras".
Enquanto isso, outro
bandeirante de Taubaté, Antônio Dias, encontrava as primeiras minas nas
margens do Tripuí. Também, o padre João de Faria percorria aquela região e,
acompanhado pelos paulistas Tomás Lopes de Camargo e Francisco Bueno da
Silva, descobrira inúmeras jazidas, das quais se extraía, em abundância,
ouro de uma coloração negra, que chamaram de ouro preto. Todos esses
desbravadores, com a mesma ambição com que se deslocaram de seus lares, no
longínquo São Paulo, com toda certeza, expandiram suas explorações de forma
centrífuga em relação ao Itacolomi. É muito provável, também, que nessa
época o rio Piranga e a região de Ponte Nova tenham sido minuciosamente
vasculhados. De certo, Francisco Bueno de Camargo divide com outros a glória
do pioneirismo na povoação da região de Barra Longa. Por ali andou Bueno de
Camargo a procura de novas descobertas de ouro. Consta, também, que esse
paulista tenha fundado algumas povoações nas margens do rio Piranga, uma das
quais, citada pelo cônego Raimundo Trindade, no encontro do ribeirão do
Carmo como rio Piranga, na qual teria feito construir uma capela. Esse
emérito genealogista e historiador atribui ao mestre de campo Matias Barbosa
da Silva o desbravamento e a povoação de Barra Longa e região.
A julgar pela proximidade
e analisando o espírito inquieto de Matias Barbosa, certamente suas viagens
e incursões visaram também à região de Ponte Diogo de Vasconcellos descreve
uma dessas incursões: "Em 1734, tempo em que esses selvagens (referindo-se
aos botocudos), vinham até as imediações do Furquim, o mestre de campo
Matais Barbosa, em acordo com o conde de Galesa, desceu com uma bandeira de
setenta camaradas e cinquenta escravos, em batida a esses canibais até as
Escadinhas da Natividade; e nesta ocasião fundou o Presídio de Abre Campo,
como anteparo que os contivesse". Nos trinta anos que ele esteve na zona do
Carmo, é evidente que, audaz e aventureiro como era, pesquisou todo o rio
Piranga, em suas duas margens. Em seu testamento, redigido no dia 1º de
fevereiro de 1738, consta que Matias Barbosa possuía, dentre muitos outros
bens, "terras minerais na freguesia do Gorapiranga" (Guarapiranga, hoje
Piranga-MG). Esta freguesia (Piranga), vasta que era, fazia limite com a
freguesia do Furquim, à qual pertencia Ponte Nova.
Em uma sesmaria ganha em 07
de setembro de 1736, Matias Barbosa construiu uma das maiores e mais belas
fazendas de toda a Capitania. A Fazenda da Barra do Gualaxo do Norte ou
Fazenda da Barra do Matias Barbosa ou, simplesmente, Fazenda da Barra,
possuía uma estrutura equivalente às famosas propriedades dos Barões do Café
ou dos grandes Senhores de Engenho. Tendo sido herdada pelo 1º. conde de
Linhares, D. Rodrigo Domingos Antônio e Souza Coutinho, bisneto de Matias,
essa fazenda foi visitada, a convite deste, pelo cientista inglês John Mawe,
em 1809.
FUNDAÇÃO DE PONTE NOVA
Padre João do Monte de Medeiros
Como era comum em certas
ocasiões, vários membros de uma mesma família recebiam, em doação, sesmarias
em uma mesma região. Caio César Boschi acredita que esse procedimento era
mais um ato de corrupção, em que um indivíduo, usando o nome de seus
familiares, somava grandes extensões de terra que, muitas das vezes,
permaneciam incultas. Entretanto, para aquelas famílias que se instalavam
nas sesmarias e nelas permaneciam nas lides da agricultura, a doação tinha,
na realidade, outro significado. As enormes extensões de terras devolutas
chegavam a desestimular um único sesmeiro. Solitário em sua fazenda, sem
vizinhos e longe de qualquer ponto civilizado, o sesmeiro sentia-se
desprotegido e vulnerável. Assim, vinham irmãos e demais parentes que se
instalavam relativamente perto uns dos outros, surgindo dai um estimulo
entre essa parentela. Dessa forma, Miguel Antônio do Monte Medeiros precedeu
ao irmão Sebastião em poucos meses, chegando à região com uma carta de
sesmaria datada de 27 de fevereiro de 1755. No início do ano seguinte, já
existia a Fazenda da Vargem Alegre, que contava com 45 escravos, animais de
trabalho e criações.
Em agosto de 1756, chega
Sebastião do Monte Medeiros da Costa Camargo, que também não tarda a fundar
sua fazenda: a Fazenda do Córrego das Almas. Sua carta de sesmaria havia
sido concedida em 03 de junho de 1756.
Com formação militar, Sebastião do Monte, no posto de Capitão, assume
o Comando das Ordenanças do Distrito da Ponte Nova. Apesar de o título de
Distrito de Ordenanças ser dado apenas a uma paróquia ou freguesia, Ponte
Nova, em 1775, ainda Capela Filial da Freguesia do Furquim, já havia sido
elevada a esta categoria. O terceiro irmão só viria mais tarde, pois
concluía, na época, seus estudos no Seminário de Mariana. Ordenado padre em
1763, João do Monte Medeiros seguiu, imediatamente, para ocupar sua
sesmaria, situada nas terras banhadas pelo ribeirão Tavoassu (Vau-Açu) e que
fora doada pela carta de 30 de junho de 1756.
Documentos indicam que, em
abril de 1768, o padre João do Monte de Medeiros já havia instalado sua
Fazenda do Vau-Açu, dotando-a de uma "Casa Sede", uma senzala, um depósito e
um curral de porcos. Essa "casa sede", uma das primeiras edificações de toda
região, existe ainda hoje, servindo de sede à propriedade denominada Fazenda
Vau-Açu ou Usina Santa Helena, no Km 07 da rodovia que liga Ponte Nova a
Viçosa. Com o Padre João do Monte de Medeiros haviam vindo também sua mãe,
D. Maria da Costa Camargo, e sua irmã Catharina do Monte. Ambas eram
portadoras de cartas de sesmaria e, apesar de viúvas, conseguiram formar,
com arrojo e dedicação, as Fazendas Santa Rita e Mata-Cães, respectivamente.
Outros sesmeiros iam também
se instalando: Antônio Gonçalves Torres, que denomina Fazenda do Pontal sua
propriedade; Sebastião Marques, que constrói a Fazenda dos Oratórios de
Baixo; José do Valle Cunha, que funda a Fazenda dos Oratórios de Cima;
Aleixo Alvez Coura, que instala a Fazenda do Pombal; Domingos Alves Torres,
que se estabelece na Fazenda do Engenho; etc. O padre João do Monte Medeiros
era um exemplo do homem dinâmico e trabalhador. Logo sua fazenda passou a
produzir em abundância, e seus produtos passaram a ser comercializados,
também, em Furquim e Mariana, conforme documentos datados de 1772. A Fazenda
do Vau-Açu tornou-se, em pouco tempo, próspera e rica, passando a ser citada
como exemplo de desenvolvimento da região. A família Monte Medeiros
integrou-se à região. Seus membros, muito ligados entre si, mantinham um
sistema de cooperação, de forma que pelo menos as quatro fazendas da
família, situadas à margem direita do rio Piranga, funcionaram interligadas,
desprezando, inclusive, as divisas entre elas.
Essa ideia cooperativista
deixa-se transparecer em carta assinada por Sebastião do Monte, datada de
1762, quando se dispõe a reformar uma ponte sobre o no Piranga que, afirma
ele, iria não só beneficiar o caminho para Mariana, como serviria para
facilitar as viagens às terras de Catharina, sua irmã, na outra margem do
Piranga. O próprio sistema de concessão de sesmarias exigia que o sesmeiro,
em quatro anos, procedesse à demarcação oficial de suas terras e requeresse
a confirmação da carta. De acordo com as demarcações das terras dos Monte
Medeiros, oficializadas em 17 de setembro de 1758, a primeira, mais próxima
do rio, compreendendo inclusive o local onde se acham construídas hoje a
Matriz, a Prefeitura, a Praça Getúlio Vargas etc., era a Fazenda Santa Rita,
de D. Maria. A seguir, no sentido leste, achava-se a Vargem Alegre, de
Miguel. Depois vinha a Fazenda do Vau-Açu, do Padre João, e, por ultimo, a
do Córrego das Almas, de propriedade de Sebastião do Monte.
Na década de 60 daquele
século, falecendo D. Maria da Costa Camargo, matriarca dos Monte Medeiros,
sua fazenda passa, por herança, a seus filhos.
Dotado de espírito empreendedor, o padre João Medeiros sonhou com o
surgimento, ali, naquele sertão, de uma cidade, que pudesse acolher homens
de bem e gerar filhos dedicados, que, como ele, "amassem aquela terra
dadivosa". Tratou logo de solicitar uma autorização ao bispo de Mariana para
construir uma capela, onde pudessem ser administrados aos santos
sacramentos. A seu pedido de 1º. De julho de 1970 atende uma autorização
passada no dia 06 do mesmo mês, por Vicente Gonçalves Jorge de Almeida, como
se lê na transcrição seguinte:
“Vicente Gonçalves Jorge de
Almeida, Cônego Prebento na Santa Igreja Catedral de Mariana, nela e em todo
bispado Vigário Capitular pelo Ilmo.”., sede vacante, etc. A todos os fiéis
cristãos, nossos súditos, saúde e paz em Jesus Cristo Nosso Senhor. Fazemos
saber que, atendendo nós ao que por sua petição nos enviou a dizer o padre
João do Monte de Medeiros: Havendo por bem conceder-lhe licença, pela
presente Nossa Provisão, para que em sua fazenda, sita da outra parte do Rio
Guarapiranga, na freguesia do Senhor Bom Jesus do Monte do Furquim e lugar
que determinam as Constituições, possa erigir uma Capela com a invocação de
São Sebastião e Almas, a qual será fabricada de materiais duráveis, com boa
proporção e arquitetura e depois de ereta e decentemente paramentada com os
ornamentos das quatro cores de que usa a igreja, Pedra D'ara Sagrada de
suficiente grandeza, Cálix e Patena de prata e todos os mais paramentos
necessários para a decente celebração do Santo Sacrifício da Missa, e, feito
o seu patrimônio, recorrerá a Nós para mandarmos visitar e benzer na forma
do Ritual Romano e darmos licença para neles se poder celebrar sem prejuízo
dos direitos paroquiais e da Fábrica da Matriz. Terá um livro em que estejam
encadernados todos os documentos pertencentes à mesma Capela. Será
registrada esta no livro do Registro Geral da Câmara Eclesiástica. Dada
nesta cidade de Mariana, sob o nosso sinal e selo da Mesa Capitular, aos
seis de julho de 1770 com a cláusula de assinar o termo de sujeição pelo
qual se sujeite a dita Capela à nossa Jurisdição e de nossos sucessores.
E eu, João Soares de
Araújo, Presbítero secular e Escrivão da Câmara Eclesiástica a escrevi.
“Vicente Gonçalves Jorge
de Almeida.”
Desenho da Capela construída pelo Padre João do Monte
Medeiros
De posse da autorização
eclesiástica, foi iniciada, imediatamente, a construção da Capela, posto
que, em menos de seis meses, já se encontrava pronta. Foi construído a
expensas do Padre João do Monte Medeiros, que, para tanto, dispendeu soma
significativa de dinheiro. A localização da capela, a mesma onde se encontra
a Matriz de São Sebastião de Ponte Nova, não foi escolhida ao acaso. No alto
do espigão, que servia de limite para as terras do Padre, tudo se avistava:
o caminho para Mariana, as colinas em volta, o rio Piranga serpenteando pelo
vale, a pequenina ponte de madeira...
Segundo consta, a última
parede da sacristia dessa capela corria junto uma linha divisória das
propriedades que o Padre João do Monte havia herdado de sua mãe e dos
sucessores de Domingos Gonçalves Torres. A primeira Capela de Ponte Nova já
estava pronta em dezembro de 1770, sendo constituído seu padroeiro, por
concessão episcopal, o próprio Padre João do Monte Medeiros e, para seu
orago, São Sebastião. O Cônego Trindade defende a teoria de que a escolha de
São Sebastião para orago da capela teria sido uma homenagem a Sebastião do
Monte Medeiros, irmão do Padre.
"Nestas terras, na paragem
chamada Ponte Nova, fundou o Padre Monte uma capela e dedicou-a a São
Sebastião e Almas; São Sebastião em homenagem ao seu irmão, aquele a quem
devia em grande parte seu patrimônio, Sebastião do Monte."
Para construir o patrimônio
canônico da Capela de São Sebastião e Almas de Ponte Nova, o Padre Monte
doou parte de suas terras, em 15 de dezembro de 1770. Por intermédio de uma
procuração passada aos padres Caetano Pinto da Mota e Francisco Soares de
Araújo, o padre João do Monte doou, em cartório de Mariana, as terras que
iam da barra do ribeirão Vau-Açu ao alto do espigão, onde se situava a
capela, como se vê na procuração transcrita a seguir:
“Por esta por mim feita e
assinada de minha livre vontade, faço e nomeio para meu bastante procurador
ao muito Reverendo Senhor Caetano Pinto da Mota e ao Senhor Francisco Soares
Araújo para que possam assinar por mim, como se presente fosse, uma
escritura de patrimônio que faço para uma Capela sita em terras minhas na
Ponte Nova do Piranga e fará partilha de parte de cima do espigão, e debaixo
no outro espigão que ficará sobre a cachoeira do córrego, e por cima ficará
partido comigo na Sesmaria e me ficará livre o espigão e lugar da dita
Capela; e para isto concedo e peço façam tudo o que a mesma justiça requerer
para a segurança do dito patrimônio, o qual faço de minha livre vontade em
terras a mim concedidas e passadas, e faço deixação delas por meus
procuradores nomeados e só reservo toda a nova citação, hoje a treze de
dezembro de mil sete centos e setenta. O Padre João do Monte de Medeiros
firma reconhecida pelo Tabelião Francisco do Rêgo Andrade."
As cidades coloniais
brasileiras, geralmente, nasciam às margens de um rio. Dentre as primeiras
providências tomadas, era a construção da capela que com seu arrogo e
devidamente benzida, se tornava o ponto vital de toda comunidade. A origem e
a fundação de Ponte Nova não fugiram à regra. Se um pequeno núcleo surgiu às
margens do rio Piranga, antes mesmo da chegada dos primeiros sesmeiros
colonizadores, o arraial só adquiriu personalidade canônica à época da
construção de sua primeira capela, pelo padre João do Monte e, naquela
época, a personalidade canônica determinava, jurídica e administrativamente,
a situação do lugar. O Padre não se limitou em erigir e paramentar o templo.
Dotou-o também de um cemitério e doou à Igreja "uma porção de terras",
desmembrada de sua fazenda, no dia 15 de dezembro de 1770, atitude que
permitiu o surgimento de Ponte Nova, dentro dos padrões da época, inserida
no contexto da Província. Este dia é, portanto, a data correta da fundação
de Ponte Nova e deveria ser comemorado, reverenciado aquele que, com seu
desprendimento e idealismo, a fundou.
Foto: João Brant
Casa-sede da Fazenda Vau-Açu. Ainda conserva o mesmo
padrão estrutural idealizado por seu fundador.
Ainda Sobre o fundador de
Ponte Nova, pode-se dizer que era homem austero, de gênio forte e indômito.
Sabe-se que suas respostas eram cheias de dignidade e de respeito, nas
francas, arguindo personalidade feita de caráter de boa têmpora. Ele nasceu
no dia 08/08/1730, em São Caetano de Mariana, sendo o quarto filho do
alferes João do Monte de Medeiros e de D. Maria da Costa Camargo. Há
notícias de que o padre João administrava suas terras com muita fibra e
energia e que dava exemplo aos seus escravos de como deveriam trabalhar, a
ponto de pegar literalmente "na enxada". Não se sabe ao certo quando faleceu
e nem onde repousam seus restos mortais, se sob o altar da capela de Ponte
Nova - aquela mesma que ele construiu, ou em um pequeno cemitério de uma das
fazendas da família, provavelmente a do Córrego das Almas.
Carta de Sesmaria do Padre João do Monte de Medeiros:
“José Antônio Freire
Andrade, Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo, Tenente Coronel da Cavalaria
e Governador interino das Capitanias de Minas Gerais e Rio de Janeiro”. Faço
saber aos que esta minha carta de Sesmaria vire, que tenho consideração a me
representar por sua petição João do Monte de Medeiros morador na Freguesia
de Sam Caetano termo da cidade de Mariana, que ele se achando com alguns
escravos, e pra melhor comodidade e sustentação dos ditos escravos, e
fabrica que conservando carreira de terras onde cultivasse e plantasse os
mantimentos necessários: e porque junto ao Ribeirão chamado Tavoassú que
desemboca no Rio Guarapiranga, pelo certam dentro haviam terras devolutas;
pedia-me por fim conclusão de sua petição se mandasse fazer Carta de
Sesmaria de meya legoa de terra em quadra que o Suppe. Lançará junto ao dito
Ribeiram chamado Tavoassú, correndo Rio acima, partindo com terras de
Sebastiam do Monte Costa Camargos e que fizesse piam no dito Riveiram
Tavoassú, correndo Rio acima até entestar com huma lagoeira chamada de Medo,
em o certão devoluto, na forma das Ordens de Sua Majestade, ao que
attendendo eu, e ao que responderão os officiais da Comarca da Cidade de
Mariana o D.P., os Doutores Provedor da Fazenda Real e Procurador da Coroa e
Fazenda desta Capitania, a quem ouvi, diz eles não oferecer duvida alguma na
concessão desta Sesmaria, visto ter o Suppe. certificado por testemunhas, na
forma da nova ordem do dito Senhor, não ter outra Sesmaria, nem pretender
esta pra outra alguma pessoa, e também por não encontrarem inconveniente,
que a proibisse pela faculdade de Sua Majestade me permite, nas suas Reais
Ordens e ultimamente na de 13 de abril de 1738, para conceder Sesmarias das
terras desta Capitania aos moradores dela que nos pedirem, hei por bem fazer
m/ como por esta faço/ de conceder em nome de Sua Majestade ao dito João do
Monte de Medeiros por Sesmaria de meia légua de terra em quadra que
compreenderá as posses que suppe. Lançou em terras devolutas citas junto ao
Ribeiram chamado Tavoassú, termo da cidade de Mariana dentro das
confrontações acima mencionadas, fazendo piam aonde pretender; com
declaração porem que será obrigado dentro em hum ano, que se contará da data
desta e demarcada judicialmente, sendo para efeito notificar aos vizinhos
com quem partir para alegarem o que for a bem de sua justiça e ele o será
também aprovoar e cultivar a dita meia légua de terras ou parte dela dentro
de dois anos, a qual não compreenderá ambas as margens de algum rio
navegável, porque nesse caso, ficara de uma ou outra banda dele a terra que
baste ao uso público dos passageiros e de uma das bandas junto a passagem do
mesmo Rio se deixará livre meia légua de terras em quadra pra comodidade
publica, e de quem arrendar a dita passagem, como determinação na nova ordem
ao dito Sr. de 11 de Março de 1754, reservando aos sítios dos vizinhos com
quem partir a referida meia légua de terra desta sesmaria, suas vertentes e
logradouros, sem que eles com este pretexto se queiram apropriar de
demasiados em prejuízo desta mercê, qual faço ao Suplicante o qual não
impedirá a repartição dos descobrimentos de terras minerais que em tal sitio
haja ou possam haver, nem aos caminhos e serventias publicas que nele houver
e pelo tempo adiante pareça conveniente abrir para melhor utilidade de bem
comum e possuirá a dita meia légua de terra condição de nelas não suceder
religiões por titulo algum e acontecendo posse o será o encargo de pagarem
dela dízimos como quaisquer Seculares e será, outrossim, obrigado a mandar
requerer a Sua Majestade pelo seu Conselho. Obtendo confirmação desta Carta
de Sesmaria dentro de quatro anos que correrão da data desta, a qual lhe
concede salvo Direito Régio, e prejuízo de terceiro, e faltando ao referido
não terá vigor e julgará por devoluta a dita meia légua de terra dando se a
quem denunciar tudo na forma das ordens de Sua Majestade. Pelo que mando ao
Ministro de que tocar posse ao suplicante da referida meia légua de terra em
quadra, compreendendo nela essas que o mesmo suplicante lançou em terras
devolutas, citas junto ao ribeiram chamado Tavoassú, termo da cidade de
Mariana, feita primeira a demarcação e notificação como ordeno, de que se
fará ter no livro a que pertencer o assunto nas costas desta para todo tempo
constar o referido na forma do Regimento. E por firmeza de tudo lhe mandei
passar esta Carta de Sesmaria, por duas vias, por mim assignada, selada com
selo de minas armas, que cumprirá inteiramente como nela se contém,
registrando se nos livros da Secretaria deste Governo, onde mais tocar.
Dando se na Vª. Rica de N. Senhora do Pilar de Ouro Preto a trinta de junho
do ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil sete centos
cinquenta e seis = o Secretario Joseph Cardozo Peleja a fez escrever. “Jose
Antonio Freire de Andrade.”
OS PRIMEIROS ANOS
Na época da fundação de
Ponte Nova, a exploração do ouro já estava em franco declínio. É bem verdade
que ainda não se haviam esgotados, completamente, os filões, como deixaram
claro Saint-Hilaire, John Mawe, Johann Pohl e outros europeus que visitaram
o Brasil no século passado. Ocorreu que a exploração era feita sem qualquer
técnica, de forma bastante rudimentar. Essa forma imprópria de extração fez
com que o mineiro abandonasse o sitio num curto espaço de tempo, pois,
quando lá permanecia, necessitava fazer vultosos investimentos para dar
seguimento à mineração. Extraíram ouro nos tabuleiros dos córregos e
ribeirões. Depois, passaram a explorar as margens desses afluentes para,
finalmente, retirarem o metal das grupiaras. Tudo isso de forma bastante
empírica, à procura de grandes e imediatos resultados. O ouro foi extraído
em maior abundância entre os anos de 1741 e 1761. A partir daí, um declínio
irreversível na produção levou os mineiros a procurarem outras atividades.
O diamante, que já havia
sido descoberto no território de Minas Gerais junto com a lavoura e o gado,
absorveu a mão-de-obra, cada vez mais disponível do garimpeiro que deixava
as regiões onde o ouro escasseava. Nos últimos 30 anos do século XVIII,
intensificou-se o povoamento de toda a região compreendida entre os rios
Paraíba e Doce, com um fluxo, cada vez maior, daqueles que deixavam a região
aurífera de Mariana e Ouro Preto. Em Ponte Nova, outras sesmarias foram
solicitadas e, na medida em que eram concedidas, muitas fazendas iam sendo
instaladas. Fazendas como a das Palmeiras, do Quebra Potes, do Xopotó, do
Córrego Grande e da Ventania vinham fortalecendo, de forma crescente, a
economia do arraial.
Em 1785, o plantio da cana
já se tornara comum entre os fazendeiros da região. Espécies como a caiana,
a caiana-branca e a cristalina eram as mais difundidas e usadas como
matéria-prima na fabricação do açúcar mascavo, do açúcar-de-forma e da
aguardente. Pequenos engenhos verticais, ainda muito rudimentares e movidos
por rodas d'água, eram instalados nas fazendas. Mesmo contrariando alguns
historiadores, hoje se pode afirmar que a cana já se havia popularizado na
região de Ponte Nova ao final no século XVIII. Referências indicam que em
1792, na Fazenda do Vau-Açu, já existiam lavouras de cana e um "engenho de
boas proporções". A criação de gado também já havia, nessa época,
constituído importante atividade ao lado do plantio de cereais.
Havia, então, certa
diversificação na produção, e as fazendas não mais ficavam restritas ao
pequeno plantio de milho e à criação de porcos. Um pequeno núcleo
habitacional foi sendo formado em volta da capela, com moradias de maior
porte, mais sólidas e de arquitetura um pouco mais trabalhada que a das
pequeninas casas já existentes junto à ponte.
A palha e o sapé, que
cobriam as primeiras habitações, foram sendo trocados por telhas nas
construções dessa fase. O taipá de pilão e o adobe de boa qualidade iam
substituindo as paredes finas e de duração efêmera. Afinal, construíam-se
casas definitivas para as famílias que haviam optado pela fixação na região.
No povoado, dois segmentos sociais distintos possuíam casas. Um era
representado pelo proprietário de terra, que mandava fazer sua moradia
urbana para ser usada nos fins de semana, em ocasiões de festas ou quando da
realização de algum negócio. O outro segmento era composto pelo comerciante,
pelo ferreiro, pelo carpinteiro, pelo boticário, pelo alfaiate, pelo seleiro
e demais profissionais que vinham suprir, com seu trabalho, as necessidades
do arraial e compor, com sua família, a população do lugar. Nessa fase, as
construções rurais eram maiores que as erigidas no povoado e seguiam certo
padrão arquitetônico. Sua planta baixa delineava a forma de um "O" ou de um
"U", formando um pátio interno, geralmente calçado. O andar térreo era
utilizado para depósito de cereais produzidos na fazenda, para quarto de
arreios, para moradia de agregados, para a cozinha grande e, até mesmo, na
falta da senzala, para abrigar escravos. No andar superior, as peças
sociais, como salas de refeições e de visitas, eram, geralmente, bem maiores
que as dependências íntimas, às vezes muito pequenas, como os quartos e
alcovas.
Casa que pertenceu ao
Dr.Miguel Antônio de Lanna e Silva, exemplo das construções urbanas dos
primeiros anos de Ponte Nova - Ainda resiste aos tempos à Rua Cantídio
Drumond (ao lado da Faculdade de Ciências Humanas).
Na maioria das vezes, esses
edifícios não possuíam um cômodo especifico que servia de banheiro,
necessitando, os moradores, de lançarem mão de enormes tinas de madeira, que
eram transportadas para os quartos e enchidas com água quente, para o banho
diário. Na fachada superior, uma enorme varanda ocupava quase toda a sua
extensão. Essa varanda era interrompida, nas duas extremidades, por dois
cômodos: a capela ou oratório e o quarto de hóspedes. Em alguns casos, as
varandas duplicavam-se no andar inferior. Na frente da casa, um vasto
terreiro, às vezes calçado com pedras enormes, reunia em volta de si a
senzala, a tulha, o engenho com as fábricas de rapadura e de aguardente e as
cobertas para o carro de boi e as carroças.
O arraial ia sendo formado
com construções normalmente boas e sólidas, porém de menor porte. Não havia,
entretanto, um planejamento a ser obedecido, e as casas surgiam de forma
desordenada, se se considerarem os padrões de engenharia, urbanismo e
ciências afins. Escolhia-se o local para construir a casa, tratava-se com a
Igreja a respeito da posse do terreno e levantava-se a construção, sem
maiores preocupações com um projeto urbano pré-estabelecido.
Exemplo dessa desordem
ainda hoje pode ser observado na atual Avenida Caetano Marinho,
provavelmente uma das primeiras ruas a ser delineada em Ponte Nova, onde, na
altura da Prefeitura Municipal, sua largura ultrapassa vinte metros e, em
frente ao número noventa, a mesma avenida tem apenas oito metros entre os
meios-fios.
Sede da Fazenda do Quebra Canoas, primoroso exemplo da
arquitetura desenvolvida pelos povoadores da região.
Também, nas Ruas Cantídio
Drumond e Benedito Valadares, outras das mais antigas vias da cidade,
nota-se exagerada tortuosidade, assim como irregularidade em suas dimensões.
A presença do índio ainda era marcante. Os botocudos continuavam sendo
ameaça constante às fazendas e ao povoado, com seus ataques sistemáticos.
“Os colonos defendiam-se como podiam e, nas fazendas, eram mantidas
verdadeiras milícias, com grande contingente de “companheiros” ou
‘Jagunços”. Estes eram homens afeitos as armas que, selecionados pelos
fazendeiros, protegiam a vida e o patrimônio de seu senhor. Dentro da
propriedade, gozavam de certos privilégios e eram respeitados pelos demais
serviçais. Em todo deslocamento, quer seja da fazenda para o arraial ou de
uma fazenda para outra, os "companheiros" seguiam junto com os viajantes ou
no meio da tropa, pronto para enfrentar o terrível botocudo.
No povoado, os moradores se
organizavam e, em pouco tempo, começaram a se impor, diante das investidas
dos aimorés. Pelo menos um destes ataques foi registrado. Referencias
indicam que, ainda no século XVIII, um grupo, numeroso e ferocíssimo, atacou
o arraial. Houve algumas vítimas e três casas e a capela foi incendiada. O
pavor espalhou-se entre os habitantes de Ponte Nova durante o ataque, que
durou mais de 24 horas. Coube ao padre Francisco Soares de Araújo a reforma
do templo. Ele já tinha seu nome ligado ao lugar, pois foi um dos
procuradores que, no ano de 1770, representaram o padre João do Monte no
processo de doação das terras à Capela de São Sebastião e Almas da Ponte
Nova. Os índios puris, mais pacíficos, aproximaram-se do colonizador, e era
comum a presença deles nas fazendas como agregados. Até durante o primeiro
quartel do século XIX, os puris mantinham aldeamentos bem próximos do
povoado. Duas dessas maiores aldeias situavam-se no local onde hoje é o
Bairro do Pacheco e no alto do Morro do Pau D` alho, onde está construído o
Colégio Dom Helvécio. Em 1780, D. Rodrigo José de Menezes assume o governo
da Província de Minas Gerais.
Esse governador empreendeu
inúmeras viagens pela Província, tendo, inclusive, estado em Ponte Nova, em
agosto de 1781. Dessas andanças resultaram a abertura e a conservação de
muitos caminhos e estradas. Por ordem de D. Rodrigo, foi aberta uma estrada
para as paragens da Serra dos Arrepiados (Araponga-MG).
O caminho foi melhorado em direção ao rio Doce, assim como foi
construída uma ponte sobre o rio Piranga, em substituição à anterior,
arrancada por grandes chuvas. Depois dessas obras, o número de viajantes que
passavam por Ponte Nova aumentou. Em todas as fazendas, que margeavam esses
e outros caminhos, eram construídos pequenos e toscos abrigos, que serviam
de pouso aos viajantes. Instalados na "casa da tropa" ou "pouso da tropa",
os viajantes abasteciam-se de gêneros alimentícios e descansavam para
continuar a viagem.
Os alimentos adquiridos
pelos viajantes eram pagos em moeda corrente, em ouro ou, ainda, com outras
mercadorias, na base da troca. Nas propriedades mais abastadas, o viajante
podia ainda trocar seus animais, cansados ou doentes, por outros em boas
condições, desde que, e evidente, pagasse pela transação. O cônego Raimundo
Trindade, em correspondência destinada ao professor Mário de Souza Clímaco,
afirmava que os primeiros povoadores de Ponte Nova, "de que se tem noticia
certa", foram os Monte, os Lana-Marinho, os Toledo, os Toledo Pisa, os Godoi
e os Romeiro. A luz de novas pesquisas hoje se pode atribuir a essas e a
outras famílias a ocupação e o início do povoamento da região de Ponte Nova.
Os primeiros povoadores foram, sem dúvida, as famílias dos sesmeiros,
principalmente aquelas que chegaram à região entre os anos de 1754 e 1770.
De 1754 ou 1755 datam as primeiras cartas de sesmarias, concedendo terras a
leste de Mariana, além de São José da Barra (Barra. Longa-MG). Em 1770,
quando ocorreu a fundação do povoado, pelo menos trinta famílias já haviam
se instalado, em suas fazendas, próximo da capela construída pelo padre João
do Monte Medeiros. A partir daí, no decorrer dos anos, muitas outras
famílias foram se transferindo para Ponte Nova. E elas contribuíram para a
definitiva formação do lugar e tiveram participação decisiva no crescimento
e progresso da região.
Ao padre João do Monte
Medeiros, membro da família Monte, Ponte Nova deve a sua fundação.
Entretanto, seus irmãos Miguel Antônio, Sebastião e Catharina, assim como
sua mãe, D. Maria, foram também proprietários de sesmarias na região, onde
formaram grandes e prósperas fazendas e deixaram vasta geração. A Fazenda do
Vau-Açu, formada pelo padre João do Monte, é um exemplo desse tempo, aliando
o pioneirismo do desbravamento e da povoação, formação e ao enriquecimento
da região.
Fazenda Vau-Açu (vista dos
fundos), construída na sesmaria concedida ao padre João do Monte Medeiros
que durante mais de 100 anos pertenceu à família Monte (Ainda existe a
sede). Essa fazenda, herdada pelo sobrinho do padre João, José Francisco
Pereira do Monte, por mais de um século sempre foi administrada pelos Monte
Medeiros. Foi um dos maiores estabelecimentos agrícolas da região, tendo
sido, inclusive, sede de uma das primeiras usinas de açúcar instaladas em
Ponte Nova. Da família Monte, uma extensa geração uniu-se a tradicionais
troncos como os Maciel, os Caldeira Brant, os Coelho Leal, os Coelho
Barbosa, os Serra e os Caldwell, dentre outros. Tais uniões legaram a Ponte
Nova e ao Brasil nomes ilustres, nos mais variados ramos das atividades
humanas.
Velhos moradores de Ponte
Nova contavam curiosa história sobre o casamento de um membro da família
Monte, em que são mostrados certos hábitos da época, com relação aos enlaces
matrimoniais. Um rico
negociante de Diamantina, Felisberto Ferreira Brant, descendente do
tradicionalíssimo tronco "Caldeira Brant", tinha, dentre outras atividades,
a mineração de diamantes. Uma vez por ano, seu filho, Augusto Ferreira
Brant, levava o produto de suas lavras para ser comercializado no Rio de
Janeiro. No ano de 1859, fortes chuvas impediram que Augusto fizesse o
percurso habitual, obrigando-o a alterar o itinerário. Seguindo para Vitória
do Espirito Santo, Augusto Brant passa por Ponte Nova. À frente de sua tropa
e cansado de uma longa caminhada, manda pedir pousada na fazenda mais
próxima, a Fazenda do Córrego das Almas, de propriedade do capitão Sebastião
José Pereira do Monte. Autorizado a pernoitar na "casa da tropa", local
construído com a finalidade de acolher tropeiros que comumente passavam por
lá, Augusto recolhe-se com seus "camaradas".
Pela manhã, muito cedo, a
tropa inicia nova jornada, com Augusto Ferreira Brant seguindo na frente,
mas antes mandara entregar ao proprietário da fazenda que o recebeu, uma
carta de agradecimento. Na casa-sede, Sebastião do Monte, impressionadíssimo
com as belas letras sobrepostas no mais puro pergaminho alemão e com as
formas do brasão de armas impresso pelo sinete do viajante, manda chamá-lo
imediatamente. Atendendo ao convite para saborear o desjejum junto à família
Monte, o jovem diamantinense conhece Margarida uma das filhas de Sebastião.
Retornando de Vitória do Espirito Santo, Augusto Ferreira Brant pede ao
capitão a mão de sua filha em casamento. Augusto só precisou de poucos meses
para ir a Diamantina comunicar à família, organizar seus negócios e voltar a
Ponte Nova. Foi o terceiro encontro de Augusto com Margarida do Monte,
ocorrido na ermida da Fazenda do Córrego das Almas, durante o casamento dos
dois. Os Gonçalves Torres vieram para Ponte Nova, representados pelos irmãos
Antônio e Domingos, nascidos em Portugal.
O primeiro, casado com a
também portuguesa Mônica Maria de Souza, instala, na sesmaria que havia
ganhado a Fazenda do Pontal. Domingos, casado com a lendária D. Violante de
Godoi e Castro, e com uma carta de sesmaria que lhe concedia terras junto às
margens do rio da Guarapiranga, como era conhecido o rio Piranga, formou a
Fazenda do Engenho. Essa Fazenda, cuja casa-sede ainda existe, imponente,
próxima às margens do Piranga, já no terceiro quartel do Século XVIII era
muito produtiva e diversificada. Possuía extensas roças de cereais e um
possante engenho de serra, possivelmente o único da região, que desdobrava a
madeira retirada das grandes matas existentes. Foi justamente por possuir
este equipamento que a propriedade recebeu o nome de "Fazenda do Engenho".
Fazenda do Engenho, fundada por Domingos Gonçalves
Torres em 1755 e há mais de duzentos anos pertencendo à mesma família.
Entretanto, toda essa
atividade deve ser creditada ao casal, posto que D. Violante, para ajudar o
marido, assumia as mais árduas tarefas. Violante de Godoi e Castro
casara-se, em segundas núpcias, com Domingos Gonçalves Torres e, com ele,
completou a fecunda geração de sete filhos. Era uma mulher de gênio forte,
corajosa e resoluta, não se intimidando e, muito menos, detendo-se ao
primeiro obstáculo. Conta-se que, em certa ocasião, destratada por uma
autoridade da capital da Província, D. Violante ergueu-se destemida e, com o
dedo em riste, dirigiu-se ao indivíduo com a seguinte ameaça:
- Quero prevenir-vos que
estais falando com um homem!
O tronco Gonçalves Torres cresceu,
unindo-se a outros, de mesma importância e tradição, como o Fonseca Marinho,
o Martins Chaves, o Sette e Câmara, o Silva e o Silveira Lobo. Domingos
Gonçalves Torres faleceu, ao que parece, antes de 1785, vindo, então, a
Fazenda do Engenho a pertencer a sua sobrinha Ana Joaquina de Souza, filha
de Antônio Gonçalves Torres.
Ana Joaquina, casada com o
português José Lopes de Oliveira, deixou uma única filha: Ana Francisca
Constância da Rocha, a qual se tornou proprietária do "Engenho". Em 26 de
novembro de 1790, Ana Francisca casou-se com o sargento-mor Miguel Martins
Chaves, também português, passando a morar na fazenda. O casal teve cinco
filhos, dentre eles o padre José Miguel Martins Chaves, vigário de Ponte
Nova e que se tornou o dono da Fazenda do Engenho. Outra filha do
sargento-mor, Francisca Velocina Fidelis de Souza, casou-se com José Caetano
da Fonseca, dos Fonseca Marinho.
José Caetano havia, nessa
ocasião, contraído seu segundo casamento, pois em 1796 casara-se com Mariana
de Jesus e Lanna, com quem viveu por vinte e quatro anos e teve doze filhos.
Em 1820, José Caetano e Mariana de Jesus separaram-se legalmente, tendo,
inclusive, obtido autorização do bispo de Mariana para tanto. Esse episódio
foi, possivelmente, o primeiro caso de divórcio ocorrido em Ponte Nova. O
casamento de José Caetano com Francisca Velocina foi a união dos Fonseca
Marinho com os Martins Chaves, da qual nasceram quatro filhos, dentre os
quais João Nepomuceno da Fonseca Marinho, que se tornou o quinto dono da
Fazenda do Engenho. Seus bisnetos são hoje os atuais proprietários da
fazenda, construída por Domingos Gonçalves Torres.
Assim, por oito gerações
consecutivas e por 235 anos, essa fazenda, símbolo da história da
colonização de Ponte Nova, tem pertencido a uma mesma família.
O sargento-mor Miguel
Martins Chaves, que havia se casado com Ana Francisca Constância da Rocha em
1790, era um abastado português há pouco chegado do Reino e que se instalara
em Mariana. Miguel aumentara
significativamente suas posses com a herança que recebera do tio, Francisco
Martins Lopes Chaves. Francisco faleceu solteiro e deixou seus muitos bens
para o sobrinho, incluindo grandes extensões de terra no Inficcionado, hoje
Santa Rita Durão. Mudou-se para Ponte Nova, entre os anos de 1790 e 1793, já
que seu filho José Miguel Martins Chaves fora batizado na capela de Ponte
Nova, em 06 de novembro de 1793. O sargento-mor adquiriu anexo à Fazenda do
Engenho herdada por sua esposa, a Fazenda Paciência, dos sucessores de João
Ferreira Bastos. Esta fazenda passa, por herança, para a filha de Miguel e
Ana Francisca, Maria Messias Claudia de São José. A D. Maria Messias e ao
capitão Inácio Martins Guedes, seu marido, sobreviveram três filhos: José
Joaquim Messias, Inácio Chaves e Francisco de Oliveira Guedes. O primeiro, a
quem coube a Fazenda Paciência, casou-se com Maria Amélia Mitraud, com quem
teve dois filhos: José Martins Messias, que faleceu solteiro, e Júlio
Martins Messias, que era avô do atual proprietário da "Paciência”.
Fazenda Paciência, de 1768,
seguindo o padrão arquitetônico das construções rurais da época, com enorme
varanda, tendo nas extremidades a capela e o quarto de hóspedes. A Fazenda
Paciência e um notável exemplo das construções rurais mineiras do período
colonial. Mantida durante mais de duzentos anos sem que se processasse
qualquer alteração em seu estilo, é hoje um autêntico monumento ao heroico
povo que desbravou e colonizou Ponte Nova. Manoel Francisco Moreira Serra,
com uma carta de sesmaria datada de 03 de março de 1760, instala uma grande
fazenda próxima ao local onde hoje se encontra o centro urbano da Cidade do
Amparo do Serra. A Fazenda dos Quartéis, como era chamada, tornou-se uma das
grandes propriedades de toda a região, com duzentos escravos e uma estrutura
complexa e sofisticada para a época.
As qualidades de seu dono
tornaram-se, também, legendarias. Muito rico extremamente ativo e dedicado
ao trabalho, esse português atendia e auxiliava a todos que o procuravam,
sempre com solicitude e delicadeza.
O nome de Manoel Francisco Moreira Serra difundiu-se a tal ponto, que
toda a região passou a ser conhecida como sendo "as terras do Manoel Serra",
ou simplesmente "as terras do Serra". Mais de cem anos depois, em 12 de
setembro de 1862, Domingos José da Fonseca dotou de patrimônio a capela de
Nossa Senhora do Amparo, construída próxima à Fazenda do Quartel, que então
lhe pertencia. O nome do primeiro povoador daquela localidade atravessou os
anos, e a capela de Nossa Senhora do Amparo teve seu nome completado pelo
povo do lugar, passando a se chamar Nossa Senhora do Amparo do Serra.
Esta é a razão pela qual,
até hoje, aquela cidade, que durante muitos anos fez parte do Município de
Ponte Nova, é chamada de Amparo do Serra e não "da Serra" como seria
natural. Os irmãos Manoel e
João Pereira Martins ganharam sesmarias na região de Ponte Nova. O primeiro,
na cabeceira do ribeirão Baguassuí, em 09 de agosto de 1769, e o segundo, em
23 de março de 1773, nas paragens da Cachoeira do Tatu. Luiz Ferreira
Martins, como os outros dois, era português e foi beneficiado com uma
sesmaria no sertão do rio Xopotó, em 02 de junho de 1758. Entretanto, os
primeiros Martins que lançaram, com sua descendência, as raízes em Ponte
Nova foram os do tronco Martins da Silva. Os irmãos Manoel José Martins da
Silva e Francisco Martins da Silva vieram de Portugal, logo no início do
século XIX, e se instalaram em Furquim. Lá desposaram as duas filhas de
Maria Genoveva da Conceição.
Maria Genoveva, por sua vez
era irmã dos padres José, João e Joaquim Ferreira de Souza, bem como do
mestre régio Manoel Ferreira Velho e do capitão Antolho Ferreira de Souza, e
se casou com o alferes Leonardo José Teixeira. Este, por seu turno, era
também um "Martins", tendo em vista ser filho do português João Martins.
O jovem alferes Leonardo
José, comerciante em Furquim, empreendeu, no final do século XVIII, uma
funesta viagem ao Rio de Janeiro, da qual não retornou. Ao descer a Serra da
Mantiqueira, nas proximidades do rio Macacu, foi atacado por um bando de
ladrões que infestava a região. Estes salteadores tornaram-se famosos pela
crueldade com que tratavam suas vitimas.
Conhecidos como a
"Quadrilha da Mantiqueira", eram chefiados pelo lendário "Mão de Luva". A
lenda conta que "Mão de Luva" era um moreno alto e robusto, chamado Manuel
Henriques e, em Portugal, namorara a filha de D. José I, que viria a ser a
rainha D. Maria I. Como castigo pela ousadia, Manuel Henriques foi degredado
para o Brasil, e em sua despedida, ainda apaixonada, D. Maria beija-lhe a
mão. Assim, ele teria coberto a mão com uma luva para o resto da vida,
evitando fosse tocado o lugar beijado pela amada.
Assaltando o alferes, esses
malfeitores, liderados pelo "Mão de Luva", assassinaram-no e
esquartejaram-no, bem como a todos os serviçais que o acompanhavam. D. Maria
Genoveva, ficando viúva, passou a ser herdeira de seus irmãos padres José e
João Ferreira de Souza e de seu cunhado, o alferes João José Teixeira, que
era solteiro. Dentre os bens herdados estava a Fazenda do Quebra Canoas, que
havia pertencido ao padre José. Das duas filhas de D. Genoveva, a primeira a
se casar foi Ana Leonarda da Conceição, que desposou, em 15 de maio de 1809,
o tenente Manoel José Martins da Silva.
Com a morte de seu tio, o
padre José Ferreira de Souza, que era vigário em Barra Longa, ocorrida em 25
de julho de 1811, Ana, Leonarda e Manoel José mudaram-se para a fazenda.
Dez anos depois, a filha mais nova de D. Genoveva, Maria Joaquina de
Souza, casou-se com o capitão Francisco Martins da Silva, transferindo-se,
também, para a Fazenda do Quebra Canoas, onde residiu até a morte, em 1838.
Morando na Fazenda do Quebra Canoas, os dois casais deram origem ao clã que
escreveu, com a própria história, a história de Ponte Nova. Todas as
famílias antigas de Ponte Nova têm sua história ligada a uma fazenda. A
própria origem da cidade, através do povoamento promovido pelos sesmeiros,
assim como a vocação rural de Ponte Nova durante todo o período de sua
formação, obriga quem pretende estudar sua história a relacionar sempre um
sobrenome com uma propriedade rural. Assim é a do Quebra Canoas, dos Martins
da Silva. Essa fazenda possui uma casa-sede, que é um belo exemplar da
arquitetura colonial. Com seu traçado original, até hoje é citada em livros
e revistas especializadas. Seu interior foi, até ha bem pouco tempo,
decorado com uma ermida magnifica, onde se destacavam pinturas de mestre
Atayde e imagens de Aleijadinho. O nome Quebra Canoas é oriundo do córrego
que banha as terras da fazenda. E foi assim denominada pelos índios que
habitavam a região.
Contam que eles desciam o
córrego, aproveitando a correnteza, que imprimia a suas canoas grande
velocidade. Só que essa corrida era interrompida, abruptamente, pelas pedras
grandes e pontiagudas localizadas na barra do córrego com o ribeirão do
Carmo, que lhes destroçavam as embarcações.
A VILA
Em Ponte Nova, a verdadeira
consolidação da urbe ocorreu na primeira metade do século XIX. O povoado se
estruturou fisicamente com a expansão de seu perímetro, sua elevação à
categoria de Paróquia ou Freguesia, a ampliação de sua igreja, a demarcação
das primeiras ruas e caminhos, etc. No povoado, o número de casas cresceu e,
no interior, as fazendas se fortaleceram com a expansão das fronteiras
agrícolas, o aumento do rebanho e o sucesso dos engenhos de cana. Ponte Nova
já se tornara a época, importante localidade da Província, o que se fez
sentir em 1857, quando foi elevada à categoria de Vila, tornando-se a sede
do município.
A Lei Provincial Número 827, de II de junho de 1857,
cria o município, conforme se lê abaixo:
“Carta de Lei, que eleva á
categoria de vila a Freguesia da Ponte Nova, marca As respectivas divisas e
contem outras disposições”. O Doutor Joaquim Delfino Ribeiro An Luz, oficial
da ordem da Rosa, vice-presidente da Província de Minas Gerais: Faça saber
todos aos seus habitantes que a Assembleia Legislativa provincial Decretou e
eu Sancionei a Lei seguinte:
Art. 1º. - Fica elevada á
categoria de Villa A Freguesia da Ponte Nova, compreendendo o novo Município
as Freguesias da Ponte Nova, Barra Longa, Santa Cruz do Escalvado, Barra do
Bacalhau, São Sebastião do Pedra do Anta, Abre Campo, desmembrados do
município de Mariana.
Art. 2º. - Os habitantes daquele
novo município obrigados a prontificar casa de Câmara e cadeia com as
necessárias acomodações.
Art. 3º. - Logo que houver
casa para as sessões da câmara do júri, será instalada a nova vila
Art. 4º. - Este Município
fará parte da Comarca Piracicaba.
Art. 5º. - Ficarão
revogadas as disposições em contrário.
Mando por tanto, a toda as
autoridades a quem o conhecimento, e execução da referida Lei pertencer, que
cumpram e fação cumprir tão inteiramente como nela se contêm. O Secretário
desta Província a faça imprimir publicar e correr.
Dada no Palácio da
Presidência de Minas Gerais aos onde dias do mês de julho do ano de
Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e cinquenta e
sete, trigésimo sexto da independência do Império.
Joaquim Delfino Ribeiro da
Luz.
Silvério Teixeira da Costa,
a fez.
Selada “na Secretaria da
Presidência da Província aos 14 de julho de 1857”
Entretanto, mesmo depois de
criado através de ato legislativo, o município não adquiria existência real
enquanto não fosse devidamente instalado, cumprindo, para tanto, as
formalidades legais. Além do caso de Ponte Nova, em diversos outras
localidades ocorreu um espaço de tempo considerável entre a criação e a
instalação do município. Uma série de razões levou a essas demoras, são
elas: fatores de ordem social e política em relação aos desmembramentos e
anexações territoriais; providências em relação às dependências
indispensáveis ao funcionamento dos diversos órgãos públicos de um
município; a escolha de constituições de autoridades e até mesmo efeitos de
natureza político-partidária fizeram retardar a instalação de alguns
municípios mineiros. Ocorreram grandes demoras entre a criação e a
instalação de municípios, como é o caso de Rio Preto, que necessitou de mais
de 27 anos, e Pará de Minas, 26, para terem seus municípios definitiva e
legalmente instalados. Tendo prescrita a Lei Provincial nº. 827, novo ato se
fez necessário para que a sede do município pudesse ser instalada, em Ponte
Nova.
Esta nova lei recebeu o
número1. 111 e foi sancionada em 16 de outubro de 1861, como s lê a seguir:
“Manoel Teixeira de Souza,
Senador do Império e vice-presidente da Província de Minas Gerais: Faço
saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa Provincial
decretou e eu sanciono a Lei seguinte: Art.”. Único. Fica prorrogado por
mais dois anos o prazo para a instalação da Villa da Ponte Nova, criada no
Município de Mariana; revogadas as disposições em contrário. Mando por tanto
a todas as Autoridades a quem o conhecimento, e execução da referida Lei
pertencer, que cumpram e farão cumprir tão inteiramente como nela se contem.
O Secretário do Governo desta Província a faça imprimir, publicar e correr.
Dada no Palácio da Presidência de Minas Gerais aos dezesseis dias do mês de
Outubro do ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos
e sessenta e um, quadragésimo da Independência e do Império.
Manoel Teixeira de Souza
Francisco Antonio do Carmo
a fez.
Selada “na Secretaria da Presidência aos 16 de outubro
de 1861.”.
Ultimaram-se então os
preparativos para a instalação do Município de Ponte Nova com a escolha dos
locais onde funcionariam os poderes públicos, assim como à cadeia e as
demais instituições necessárias à sede do município. Não querendo ver
atrasado novamente o processo o coronel Idelfonso Martins da Silva doou à
municipalidade um amplo edifício, de sua propriedade, para abrigar a câmara
e a cadeia. No dia dois de dezembro de 1862, foi eleita a primeira Câmara
Municipal de Ponte Nova, composta de seis vereadores e um presidente. Essas
pessoas conceituadas no lugar eram as Seguintes: capitão Manoel Francisco de
Souza e Silva (presidente), capitão Sebastião José pereira do Monte, coronel
Miguel Martins Chaves, capitão Antônio Carlos Corrêa Mayrink, capitão,
Joaquim Rodrigues Milagres, capitão Antônio Justiniano Gonçalves Fortes e
Luiz José Pinto Coelho da Cunha. Como secretário da Câmara, foi nomeado
Lucindo Lázaro Lessa natural de Mariana e que havia se transferido para
Ponte Nova especificamente para ocupar este cargo. Dedicado e competente,
Lucindo Lessa desempenhou essa função durante 32 anos1895, foi substituído
pelo próprio filho.
No período imperial, as
cidades eram governadas pelos Presidentes das Câmaras de Vereadores, não
existindo, portanto, distinção entre o poder executivo e o legislativo. O
mandato do presidente, assim como o de toda a Câmara, era de três anos e,
habitualmente, tinha inicio no dia 07 de janeiro e findava em 31 de
dezembro. Não podendo
deslocar-se até Mariana, onde tomaria posse como Presidente da Câmara
Municipal da Vila da Ponte Nova, no dia 20 de abril Manoel Francisco de
Souza e Silva solicitou ao Dr. Manoel Faustino Correia Brandão que o
representasse no ato, passando-lhe, para tanto, uma procuração. No dia 26 de
abril de 1863, grandes comemorações acompanharam as cerimônias de posse da
Câmara e a instalação do município, que passou a ser formado pelas paróquias
da sede, de Barra Longa, de Santa Cruz do Escalvado, da Barra do Bacalhau
(hoje Guaraciaba), de Abre Campo e do Distrito de São Sebastião da Pedra da
Anta (hoje Pedra do Anta). A Paróquia da Conceição da Casca (hoje Rio Casca)
e o Distrito de Santa Margarida, criados após a Lei Provincial Número 827
(em 1858 e 1859, respectivamente), também compunham o Município da Ponte
Nova na época de sua instalação.
O primeiro presidente da
Câmara de Ponte Nova, capitão Manoel Francisco de Souza e Silva, permaneceu
no cargo apenas 25 dias e, em 21 de maio de 1863, foi substituído pelo
capitão Miguel Martins Chaves, que ocupou o cargo até o final do período
legislativo, que se extinguiu em 31 de dezembro de 1864. O Termo Judiciário,
por imposição da lei, estava instituído na vila desde o momento de sua
instalação em 23 de outubro desse mesmo ano, toma posse, como Juiz Municipal
e de Órfãos, o Dr. Ângelo da Matta e Andrade, natural do Estado da Bahia.
Conta o historiador Manoel Ignácio Machado de Magalhães que, depois de algum
tempo residindo sozinho em Ponte Nova, o Dr. Ângelo regressa à Bahia para
trazer a família. Graças às muitas amizades que o magistrado havia granjeado
no município, uma grande festa foi preparada para recebê-lo em seu retorno.
Cavaleiros foram esperar a chegada da família uma légua antes da cidade e,
de lá, vieram acompanhando, com muitas reverências e aclamações, até o Largo
da Matriz, onde, fogos, músicas e outras manifestações simpáticas aguardavam
o Dr. Ângelo e os seus.
Em correspondência ao barão
de Cotegipe, seu amigo, Ângelo da Matta e Andrade descreve seu retomo
triunfal a Ponte Nova:
"Impossível é descrever o
meu bota-fora e o meu ingresso, tive-os imperiais e até recebi honrarias
episcopais sendo conduzido sob o palio e acompanhado pelos cidadãos mais
distintos do lugar, música, etc., até a matriz. onde se solenizou o TeDeum,
em ação de graças pelo meu feliz e almejado regresso!"
O Dr. Ângelo da Matta e
Andrade era pessoa afável e prestativa, qualidade que fizeram com que se
tornasse muito estimado pela população de Ponte Nova. Entretanto, esse bom
relacionamento do Juiz com a comunidade teve dias difíceis. Durante quatro
anos, Dr. Ângelo exerceu o cargo de Juiz de Órfãos em Ponte Nova. Nesse
período, a cidade vivia dias tensos e tumultuados, e em várias ocasiões, o
enérgico juiz foi obrigado a impor sua autoridade. As facções liberais e
conservadora se digladiavam, e a população, sobressaltada, acompanhava o
difícil momento político por que passava o país. No ano de 1867, o vigário
João Paulo Maria de Britto, eminência parda do Partido Liberal de Ponte Nova
e afeito a contendas, resolveu desrespeitar o Juiz Municipal, ligado ao
Partido Conservador, incitado seus paroquianos a desobedeceram certa
determinação da autoridade. Tem inicio, então, uma das mais ferrenhas
disputas políticas da hist6na da cidade, ao melhor estilo dos vendetas da
Córsega.
Acossado pelos liberais e
perseguidos ferozmente pelo vigário, Dr. Ângelo conclui o quadriênio para
que fosse nomeado, deixando o cargo de Juiz Municipal e de Órfãos.
Entretanto, para desespero de seus adversários, resolve fixar residência,
definitivamente, em Ponte Nova, estabelecendo-se como advogado. Junto às
atividades de sua "banca", o ex-juiz inicia sua militância política nas
hostes conservadoras. Em 1875,
com a criação Comarca do Rio Turvo, com sede em Ponte Nova, Ângelo da Matta
e Andrade é nomeado Promotor Público. A 26 de setembro do ano anterior,
havia sido instituída a Lei de conscrição que regulamentava o recrutamento
de homens para o exército e a armada Esta lei tomou-se, rapidamente,
impopular em toda a Província. Foram criadas as Juntas paroquiais de
Alistamento que deveriam fazer cumprir a tão odiada lei. Estas juntas
compunham-se do Juiz de Direito, do promotor público, do escrivão e do
Vigário, obrigatoriamente, além de outras autoridades municipais, em alguns
casos.
Em Ponte Nova, desde o
início, o padre João Paulo se nega a participar da Junta e desfecha forte
campanha contra a lei de recrutamento.
Em seus sermões, criticava
a lei e o governo conservador. A esse movimento unem-se todos os políticos
da ala liberal, complicando ainda mais a melindrosa situação em que se
encontravam o Juiz e o promotor. No dia 20 de dezembro de 1875, a Junta
Paroquial de Alistamento achava se reunida na Sacristia da igreja matiz,
evidentemente sem a presença do padre João Paulo Maria de Britto, empenhada,
na sua função de escolher e selecionar aqueles que deveriam ser recrutados
pelo exército. Insufladas pelo padre João Paulo e pelos liberais, mais de
cem mulheres invadiram a igreja, adentrando a Sacristia, e, armadas de
porretes, avançaram sobre os Drs. José Francisco do Rêgo Cavalcanti, Juiz de
Direito, e Ângelo da Mata e Andrade, Promotor Público, José Rodrigues dos
Santos e o sr. Balduíno José dos Sanos,, Escrivão. Este, preocupado em
recolher a papelada, chegou a ser gravemente ferido na cabeça pela turba
enlouquecida.
O Dr. Ângelo determina a
prisão dos que lideraram o movimento: nove mulheres e Um homem. Entretanto o
guarda Adriano Marcelino Macedo, responsável pelas prisões, Interceptado no
caminho da cadeia por doze homens capitaneados pelo vigário João Paulo, não
aguentando as pressões, liberta os prisioneiros. E o Dr. Ângelo, mais
enérgico que o Dr. Rêgo Cavalcanti, de forma audaciosa determina a prisão do
vigário e do guarda Adriano Macedo. Esses acontecimentos têm repercussão em
toda a Província. O chefe de Polícia da província envia para Ponte Nova uma
força composta por 12 praças, comandados pelo capitão Rufino Simões de
Miranda. Na Assembleia Provincial e na Câmara dos Deputados, os debates
acirram os ânimos de liberais e conservadores. Em Ponte Nova, a situação
vai-se tomando cada vez mais tensa. Surgem boatos que dão conta de
investidas da população contra o Juiz e o Promotor. Com o pagamento da
fiança, o padre é libertado e reinicia seu movimento contra Matta e Andrade
e Rêgo Cavalcanti.
As festas de fim-de-ano
transcorrem em verdadeiro clima de guerra. Prevendo um mal maior, Dr. Ângelo
aceita o convite de seu amigo Sebastião José Pereira do Monte e vai passar o
Natal e a virada do ano na Fazenda do Córrego das Almas.
No dia 1º. de janeiro de 1876, os
boatos que surgiram à época da prisão do padre João Paulo traduziram-se em
violentas investidas contra as figuras das autoridades judiciárias,
culminando em dramáticos acontecimentos. Às 23 h 30 min, um velho português
radicado em Ponte Nova e conhecido como senhor Ventura, vendo as labaredas
consumirem rapidamente o sobrado que servia de residência ao Promotor
público, sai em correria pelas ruas da cidade, anunciando: "Puseram fogo na
casa do compadre Matta!" A aflição do Ventura era tamanha que só no dia
seguinte recordara que havia visto também um "negro jovem", disfarçado por
uma longa capa escura, ateando fogo na casa de seu amigo e compadre Dr.
Ângelo da Matta e Andrade. Estando a família ausente, só dois escravos se
achavam dormindo dentro da casa, os quais foram obrigados a fugir, escapando
ilesos do pavoroso incêndio.
Satisfeitos, os liberais e,
principalmente, o vigário João Paulo, ficaram convictos de que o inimigo
fugiria, bem depressa, para distantes paragens.
Entretanto, desagradando ainda mais seus adversários, o Dr. Ângelo,
novamente rico com a herança de um tio da Bahia, constrói, na Rua Direita
(hoje Av. Caetano Marinho), um palacete para sua nova residência.
Palacete construído pelo
Juiz Ângelo da Mata e Andrade.
A casa, das mais
requintadas da Província, era toda iluminada a gás acetileno em magníficos
lustres de cristal da Bohemia e possuía enormes salões decorados com
mobiliários europeus e tapetes orientais. A nova casa do ex-juiz não tinha
similar nas redondezas. Até de banheiros, símbolo de luxo e requinte na
época, a suntuosa vivenda dispunha. Seus jardins foram construídos nos
fundos, em degraus, aproveitando o declive do terreno, e decorados com
mármores e estatuetas vindos de Portugal. Túneis ligavam os vários lances
dos jardins, que, para sua conservação, o proprietário empregava quatro
serviçais. Ao invés de esmorecerem-lhe os ânimos, os acontecimentos do dia
1º. de janeiro de 1876 fizeram com que Dr. Ângelo se tornasse ainda mais
impetuoso.
Definitivamente radicado em
Ponte Nova, tem sua posição política cristalizada dentro do Partido
Conservador. Passa, então, a colaborar em jornais da capital e, na cidade,
efetiva-se como forte e significativa liderança. Na política partidária,
registra uma brilhante passagem pela Câmara dos Vereadores. Finalmente, no
dia 31 de dezembro de 1900, idoso e vivido, o Dr. Ângelo da Matta e Andrade
falece na terra que adotara como sua. No final do século XVIII, a Província
de Minas Gerais possuía apenas quatorze municípios. Nesse século, em grandes
espaços de tempo, entre os anos de 1718 e 1729, e depois entre 1731 e 1789,
não foi criado sequer um município em toda a Minas Gerais. O professor
Joaquim Ribeiro Costa justifica esses grandes interstícios em nossa formação
territorial e administrativa, afirmando que "A eficácia das medidas
representadas pela criação das vilas dependia naturalmente da existência das
condições mínimas para seu funcionamento, tais como a fixação de, interesses
econômicos, O elemento humano para o exercício das funções públicas e um
nível de cultura suficiente para a formação do espirito comunitário, com
base nos princípios morais que deviam informar a vida social do Brasil desde
o inicio de sua colonização”.
Ponte Nova foi o 60º
município a ser criado na Província. O processo de emancipação das
freguesias era lento, sendo necessário satisfazer os quesitos estipulados
pela lei. Também, eram imprescindíveis a influência e a atuação políticas.
Por ocasião da promulgação da lei que elevou Ponte Nova a categoria de Vila,
alguns homens públicos ligados ao lugar já se destacavam no cenário político
da província e do Império. Manoel Ignácio de Mello e Souza, o barão do
Pontal, cuja ascendência se mistura aos Souza Rabelo e Gonçalves Torres, foi
proprietário, em Ponte Nova, da Fazenda do Pontal.
Esse tradicional
estabelecimento agrícola foi instalado por seu primeiro proprietário,
Antônio Gonçalves Torres, em sesmaria que lhe foi concedida em 23 de
dezembro de 1755 e, por muitos anos, pertenceu a seus descendentes diretos.
No período de 1831 a 1833, o barão do Pontal ocupou a residência da
Província de Minas Gerais. Foi durante seu governo que ocorreu a Revolta de
Ouro Preto, em 22 de março de 1833, ocasião em que o comandante das armas,
coronel Toledo Ribas, o comandante da Guarda Nacional, Manoel Soares do
Couto, e outros oficiais amotinaram-se, justamente quando Mello e Souza se
achava fora de Ouro Preto, em viagem a Mariana e Ponte Nova. Na primeira
cidade, ele se dirigiu para tratar de assuntos concernentes a seu governo e,
na segunda, foi cuidas dos negócios de sua fazenda.
No decorrer da primeira
(1835 a 1837), segunda (1838 a 1839) e quarta (1842 a 1843) legislaturas,
Manoel Ignácio de Mello e Souza ocupou uma cadeira na Assembleia Provincial.
No período compreendido entre os anos de 1844 e 1859, este último, ano o de
sua morte, o Barão do Pontal foi senador do Império. O conselheiro José
Joaquim Fernandes Torres, nascido em Barra Longa no ano de 1795, tinha sua
ascendência, comum à do padre João do Monte, fundador de Ponte nova, ligada
aos Camargo de São Paulo.
Assim que retornou de
Portugal, onde havia cursado Direito na Universidade de Coimbra, ingressou
na política. Como o Barão do Pontal, foi Deputado Provincial na primeira,
segunda e quarta legislaturas. Nos anos de 1846 e 1847, Fernandes Torres
ocupou uma cadeira de Deputado Geral e, no Gabinete formado por Holanda
Cavalcante, foi Ministro da Justiça. Em 1847, ocupou a pasta da Fazenda. No
governo do desembargador Pedro de Alcântara Cerqueira Leite, iniciado a 26
de setembro de 1864, José Joaquim Fernandes Torres é o primeiro vice-
presidente da Província de Minas Gerais e, com toda certeza, sua influencia
foi fundamental para que o processo de emancipação política de Ponte Nova
tramitasse, com desenvoltura, até sua efetivação em forma de lei.
No ano seguinte, é
convidado por Zacarias de Góes e Vasconcellos para ser o Ministro do
Império. Esse eminente estadista, que veio a falecer em 24 de dezembro de
1869, deixou herdeiros políticos. José Joaquim Fernandes Torres Júnior,
segundo filho do segundo casamento do desembargador Fernandes Torres, foi
Deputado Provincial na 15ª. legislatura (1864-1865). A irmã primogênita de
Fernandes Torres Júnior, Luiza Adelaide Fernandes Torres, casa-se com
Francisco de Paula Silveira Lobo. Silveira Lobo era neto de Francisco José
da Silveira, um dos lideres da Revolução Pernambucana e que foi enforcado em
1817, nasceu na Paraíba e se formou em Direito em Recife.
Como advogado, inicia sua
vida profissional em Mariana, cidade natal de seus avós. Casado em Barra
Longa e definitivamente enraizado na região, lança-se na política. Para as
10ª (1857 a 1860), 12ª (1861 a 1864) e I3ª (1865 a 1868) legislaturas,
Silveira Lobo se elege Deputado Geral, no primeiro caso, pelo Distrito de
Mariana e, nos dois outros, pelo Distrito de Ouro Preto. Republicano
convicto, Francisco de Paula Silveira Lobo foi ainda Senador Provincial e
presidente das Províncias de Minas Gerais e Pernambuco. Outro político de
expressão que militou durante o terceiro quartel do século XIX e que era
ligado a Ponte Nova foi o padre Francisco de Paula Homem. Esse padre, que
esteve atuando como religioso na paróquia de São Sebastião e Almas de Ponte
Nova como auxiliar e posterior substituto do cônego José Miguel Martins
Chaves, foi Deputado Provincial durante a 13ª legislatura (1860 a 1861).
A CIDADE
Até o final do século
passado, a divisão administrativa do país era regida por um emaranhado de
normas, leis e decretos que, nem sempre, eram cumpridos ou observados. Além
disso, nessa divisão, confundiam-se os critérios civil e eclesiástico, no
tocante à classificação das povoações. Não só a organização administrativa,
como também o próprio exercício do poder, confundia-se entre o governo
constituído e a autoridade eclesiástica. Dessa forma, os Arraiais, nos quais
exercia o poder civil um Alferes ou um Tenente de Ordenanças; equivaliam, na
classificação da Igreja, a Capelas Filiais que possuíam uma Cúria, a qual
extrapolava suas atribuições de religioso, interferindo na administração do
lugar e dividindo o poder com o alferes. Ponte Nova, entre os anos de 1770 e
1832, foi, administrativamente, um Arraial. Era nessa fase, entretanto,
denominada Capela Filial do Furquim.
Não se sabe, exatamente, o
porquê de, em vez de possuir alferes ou tenente de Ordenanças, contava,
durante esse período, com capitães de Ordenanças e, naturalmente, com os
membros das Cúrias. Assim, durante essa fase, capitães e curas governavam
junto o Arraial. Nos primeiros vinte e cinco anos da existência de Ponte
Nova, Sebastião do Monte Medeiros, irmão do padre João do Monte, foi o
capitão-comandante das Ordenanças, sendo o padre Francisco Soares Araújo - o
cura, e dos dois partiam todas as decisões relativas ao Arraial ou à Capela
da Ponte Nova. Falecendo Sebastião do Monte, em 1798, foi passada Carta
Patente a Gregório Pinto da Motta e Castro, em 10.07.1798, nomeando-o seu
substituto. O Decreto de 14 de julho de 1831, da Regência Trina, sancionou
uma Resolução da Assembleia-Geral, elevando o Curato da Ponte Nova à
categoria de Paróquia. Como se vê, um decreto emanado, estritamente, do
Poder Civil dá à localidade denominação essencialmente Eclesiástica. Como
Paróquia, Ponte Nova torna-se também um Distrito de Ordenanças, com o poder,
então, dividido entre os capitães e os párocos, assim permanecendo por
trinta anos. Em 1862 é instalada a Vila, e Ponte Nova torna-se sede de
município.
Os poderes, então mais
definidos, reservavam à Câmara Municipal, com seus vereadores, as funções
Legislativas e, com seu presidente, as funções Executivas. Como o Termo da
Vila é também implantado o Poder Judiciário, exercido pelo Juiz Municipal e
de Órfãos. Bem distintos, esses três poderes continuavam, entretanto,
disputando influência e autoridade com o Poder Eclesiástico, reservado à
figura do vigário. Portanto, a verdadeira emancipação política e
administrativa de Ponte Nova ocorreu por ocasião de sua investidura na
categoria de Vila ou Município. Naquela época, o titulo de Cidade era de
muito pouca importância.
"A denominação Cidade até a
implantação do Império no Brasil era reservado às Sedes de Bispado. A partir
dai, até recentemente, tornou-se apenas um titulo honorifico.”
"Mariana foi a primeira
vila criada em Minas Gerais e também a única a receber foros de cidade, no
regime do governo colonial, por carta régia de 23 de abril de 1745. Esta
investidura, teria tido como causa imediata a criação da Diocese, cuja sede,
segundo o Cônego Raimundo Trindade, não podia ser em Vila.”
Saint-Hilaire, em sua
"Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais", afirma:
"Enquanto que as cidades do
Brasil, que são simples capitais de províncias ou sedes de Judicaturas, não
usam senão o título de Vila, Mariana e todas as sedes episcopais gozam do
privilégio de ter a denominação de Cidade.”
Durante o Brasil Império,
diversas paróquias e vilas foram homenageadas com o título de Cidade, o
qual, na realidade, não trazia qualquer beneficio ou promoção dentro do
quadro administrativo. Já no
período Republicano, a Lei nº. 23, de 24 de maio de 1892, eleva g Cidade
"todas as Vilas Sedes de Comarcas". Só a partir deste ano que a denominação
Cidade passa a equivaler à de Sede de Município, portanto com a instalação
de governo próprio e autonomia administrativa. Assim, para Ponte Nova, de
relevância histórica a Lei Provincial que a elevou à categoria de Vila,
datada de II de junho de 1857, e não a Lei de nº. 1.300, de 30 de outubro de
1866, que apenas alterou sua denominação de Vila para Cidade.
Como fonte de referência,
esse ato é transcrito a seguir:
"Joaquim Saldanha Marinho,
Presidente da Província de Minas Gerais: Faço saber a todos os seus
habitantes que a Assembleia Legislativa Provincial decretou, e eu, sancionei
a Lei seguinte:
Art. Único: Fica elevada á
categoria de cidade a Villa de Ponte Nova, com a mesma denominação,
revogadas as disposições em contrário. Mando por tanto, a todas as
Autoridades a quem o conhecimento e execução a referida Lei pertencer, que
cumpram, e a fação cumprir, publicar e correr. Dada no Palácio da
Presidência da Província de Minas Gerais aos 30 dias de outubro ao ano de
Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e sessenta e seis,
quadragésimo quinto da Independência e do Império.
Joaquim Saldanha Marinho
“Carlos Benedicto Monteiro
a fez.”
O BAIRRO DAS PALMEIRAS E A ESCOLA NORMAL
Sede da Fazenda das Palmeiras na qual funcionou, nos
primeiros anos, a Escola Normal.
No dia 03 de janeiro de
1895 assume, em Ponte Nova, uma nova Câmara Municipal. Era composta por
Francisco Vieira Martins, José Cupertino Teixeira Fontes e Augusto
Leopoldino Mayrink, eleitos Vereadores Gerais. Pelos distritos, elegeram-se:
Francisco Ferreira Martins (Urucu), Artur Victor Serra (Amparo do Serra),
Francisco Mariano Gonçalves Lanna (São Pedro dos Ferros), Salathiel Albino
de Almeida Cyrilo (Grotta), Felipe Nunes Pinheiro (Rio Doce), João Martins
Gomes (Jequeri) e Augusto Rodrigues Sette Câmara (Santa Cruz do Escalvado).
Escolhido por seus pares,
Francisco Vieira Martins assume a presidência da Casa, sendo eleito para
exercer o cargo de Agente do Executivo José Mariano Duarte Lanna. O
primeiro, descendente dos Martins, vindos de Barra Longa para a Fazenda
Quebra Canoas, era médico e proprietário rural. Juntamente com seu irmão
José Vieira Martins, fundou a Usina Anna Florência e teve papel destacado em
inúmeras iniciativas de relevância para a Cidade de Ponte Nova.
José Mariano Duarte Lanna
vinha do tronco dos Lannas, também de Barra Longa, e povoadores do Rio
Casca. Também, era médico e proprietário rural. Construiu e manteve uma das
mais prósperas fazendas da região, onde também instalou uma grande usina de
açúcar. Em 1886, aos 34 anos de idade, por ocasião da visita de D. Pedro II
a Ponte Nova, o Dr. José Mariano hospedou o Casal Imperial e toda a sua
comitiva na Casa Grande de sua magnífica Fazenda do Xopotó. Por esta época
(1895), os limites ao sul da cidade não ultrapassavam o ribeirão do Vau-Açu,
e a necessidade de ampliar o perímetro urbano de Ponte Nova já havia
preocupado outros administradores. Com os recursos liberados pela Câmara em
27.11.1895, o Dr. José Mariano adquire as terras da Fazenda das Palmeiras e
as anexa as da municipalidade. Essas terras eram do coronel José Soares da
Silva e pertenceram, anteriormente, à sesmaria das senhoras Maria de Jesus
Ferreira e Joaquina Ferreira. Eram cinquenta e quatro alqueires
(aproximadamente 156 hectares), compreendidos entre os antigos limites de
Ponte Nova, junto ao ribeirão Vau-Açu, e os do atual bairro do Guarapiranga,
na época outra grande propriedade rural. Dentro destas terras estavam a
ampla casa-sede e todas as demais benfeitorias da tradicional fazenda.
O Dr. José Mariano
determinou ao Sr. José Domingues Machado que procedesse ao levantamento
topográfico e executasse o consequente projeto de loteamento do novo bairro,
que, herdando o nome da fazenda, passou a se chamar Palmeiras. Foram
executados os serviços de armamento das principais vias do bairro que,
retas, contrastavam com a tortuosidade e irregularidade das ruas do já
centenário centro da cidade. A nova empreitada do Dr. José Mariano foi a
instalação de uma escola para moças, no novo bairro. Este empreendimento
contou com a participação do vigário João Paulo Maria de Britto, que, em seu
tempo, esteve sempre presente em todas as grandes iniciativas da
municipalidade. O vigário João Paulo, fazendo gestões junto aos altos
escalões da Igreja Católica, conseguiu que as irmãs Salesianas assumissem a
organização e a posterior administração do colégio. O historiador Manoel
Ignácio Machado de Magalhães conta que um pavoroso acidente ferroviário em
Juiz de Fora, causando a morte de D. Luiz Lasagna, superior da Congregação
Salesiana, além de freiras e outros religiosos, teria atrasado o início das
atividades do colégio.
No dia 11 de abril de 1896,
chegam a Ponte Nova as primeiras freiras, que se encarregam da estruturação
do estabelecimento de ensino. Designada diretora, a irmã Maria Cousirat
orienta os trabalhos de outras cinco religiosas: Dolores Petazzi, Veridiana
Godoy, Paulina Heymam, Olívia Fachini e Rosa Pomati. Também foi construída,
nessa época, uma pequena capela, dedicada a Nossa Senhora Auxiliadora. A
inauguração da Escola Normal Nossa Senhora Auxiliadora deu-se no dia 1º. De
maio de 1896, entretanto o Estado só autorizou seu funcionamento no ano de
1898, ato este que oficializou o estabelecimento.
A primeira turma de
normalistas do educandário colou grau, em solenidade muito concorrida, no
dia 10 de maio de 1903.
Durante o governo do Dr.
José Mariano e por iniciativa direta deste foi fundada, em Ponte Nova, a
Sociedade São Vicente de Paula, instituindo-se as Conferências de São
Francisco e de São Sebastião. O próprio agente do Executivo foi, durante
muitos anos, um vicentino militante, participando das atividades de
assistência social desta benemérita entidade. Dinâmico e arrojado, Dr. José
Mariano destacou-se, tanto na iniciativa privada quanto no trato da coisa
pública, podendo ser considerado, de acordo com o Prof. José Schiavo, o
primeiro grande administrador do Município de Ponte Nova. O Dr. José Mariano
Duarte Lanna também foi médico atuante, tendo dedicado boa parte' de seu
tempo ao Hospital Nossa Senhora das Dores, do qual foi vice-provedor e
provedor. Faleceu aos sessenta e quatro anos de idade, no dia 31 de julho de
1916.
Ponte Nova, Minas Gerais,
em 1878.
Transcrito das páginas
145-147 da obra:
SILVA, José Joaquim da,
1878. Tratado de geografia descritiva especial da Província de Minas-Gerais.
Rio de Janeiro, E. & H. Laemmert, 177 p. + XV (índice incompleto no exemplar
consultado).
Cidade da Ponte Nova. A
povoação da Ponte Nova foi elevada a freguesia pela resolução de 14 de Junho
de 1832, e elevada á categoria de Villa pelo art. 1.o da lei provincial n.
827 de 11 de Junho de 1857, e depois passou á categoria de cidade.
Dista da capital da
província 14 léguas. Hoje é a sede da comarca do Rio Turvo. Tem um comando
superior de guardas nacionais, e um colégio eleitoral composto de 138
eleitores. A cidade da Ponte Nova tem-se tornado assaz importante não só
pelo seu comercio como pela sua lavoura; em seu município ha para mais de
140 engenhos de canna, onde se fabricam muitas centenas de arrobas de
açúcar, e muitas dezenas de pipas de aguardente para exportação, além de que
também ali já se cultiva o café em larga escala, e todos os mais gêneros do
país. A população da cidade orça por 3,600 almas, que com a do município
eleva-se a 55,370 almas. O número de escravos matriculados na coletoria do
município foi de 7,604, e o fundo de emancipação é de $700. E o dos ingênuos
de três freguesias nascidos até 31 de Dezembro de 1876 foi de 464, dos quais
faleceram 47.
O município da Ponte Nova
divide por um lado com a província do Espirito Santo, por outro lado com o
município de Santa Barbara, por outro com o de Marianna e Pyranga, e por
outro com o da cidade Viçosa de Santa Rita, e o do Muriaé, e compõe-se da
freguesia e distritos seguintes:
1.a Freguesia de S.
Sebastião da Ponte Nova.
2.a Freguesia de Santa Cruz
do Escalvado.
3.a. Freguesia de Nossa
Senhora da Conceição da Casca, ou Bicudos.
4.a Freguesia de Santa Anna
do Gequiry.
5.a Freguesia de S. José da
Pedra Bonita.
6.a Freguesia de Santa
Helena.
7.a Freguesia de Nossa
Senhora da Conceição do Abre Campo.
8.a Freguesia de Santa
Margarida.
9.a Freguesia de S.
Lourenço do Manhuassú.
10.a Freguesia de S. Roque
da Caratinga.//.
S. Simão, distrito da
Gramma, districto de Nossa Senhora do Amparo da Serra.”.
Texto acima sob domínio
público, sem reserva de direitos autorais. Recomenda-se transcrição completa
da citação bibliográfica abaixo para fins de reprodução e publicação:
SILVA, José Joaquim da,
1878. 52 Município. Cidade da Ponte Nova. P. 145-147 in Tratado de geografia
Descritiva especial da Província de Minas-Gerais. Rio de Janeiro, E. et H.
Laemmert, 177 p. + XV.
Carlos Trivellato
Em 05/12/1878, nascia, na
província de Rovigo, Itália, Carlos Trivellato.
Ainda jovem veio para o
Brasil e, por determinação do serviço de imigração, à época, seguiu
juntamente com outros italianos para o interior de Minas, para o local
denominado então Rosário do Pontal, reduto próximo a Ponte Nova.
Carregando nas mãos uma
enxada, seu instrumento de trabalho- com dignidade e amor, iniciou sua luta
como trabalhador rural nas imensas lavouras de café nas conhecidas fazendas
Vargem Grande Urtiga e Sant’Anna, de propriedades dos senhores Neném Vieira
e Zezé Vieira.
Decorridos alguns anos, lá
por volta de 1900, fixou residência em Palmeiras à Rua Santo Antônio.
Casou-se com Anna Jalles
Lanna Trivellato, natural de Santa Cruz do Escalvado, com quem teve dez
filhos: Antônio, Constantino, Armando, Maria Amélia, José Nello , Heitor
,Tereza, Orlando, Sylvia, Nelson e Irene.
Entre os anos de 1900 e
906, fundou e organizou a firma jurídica Trivellato & Irmãos, desenvolvendo
nessa firma trabalho pioneiro no comércio de produtor, comprador e
exportador de café, em alta escala. Já em 1939 organiza e funda a Usina
Açucareira S. José, firma individual, que, em 14/04/1954, é transformada em
societária, ou seja, passa a se chamar Usina Açucareira Carlos Trivellato S.
A, com a colocação dos seus filhos como administradores e acionistas.
Nos idos de 1922 construiu
um dos primeiros prédios em Palmeiras, á Rua Santo Antônio, que funcionou
como sede da firma jurídica solidária Trivellato & Irmãos. Em 1943, recebe o
título de Cidadão Brasileiro, conferido pelo então Presidente da República,
Getúlio Vargas.
Na administração do Saudoso
prefeito pontenovense João de Carvalho, foi inaugurado, em 1967, á Rua Santo
Antônio em Palmeiras, o grupo escolar, construído por Carlos Trivellato, que
recebeu o seu nome e o de sua esposa, Anna Jalles Lanna Trivellato.
Perpetuada nas terras de
Ponte Nova, fica imortalizada a sua memória nos grandes cafezais, bem como
sua grandeza material e moral no seu incansável trabalho.
Em 1951 falecia no Rio de
Janeiro a esposa de Carlos, onde se encontrava em tratamento de saúde.
Alguns anos depois, em 31/08/1955, na Casa de Saúde São Miguel, em Botafogo,
no Rio de Janeiro, falecia Carlos Trivellato.
Reinaldo é eleito o "Craque
Mineiro de Todos os Tempos"
O ex-jogador Reinaldo, que
atuou no Atlético de 1973 a 85, foi eleito pelos internautas do Uai como o
"Craque Mineiro de Todos os Tempos". A promoção, que durou 22 dias e
terminou ao meio dia desta segunda-feira, somou 55.252 participações no site
Superesportes.
A eleição, uma iniciativa
da coluna Roberto Drummond em parceria com o Uai/Estado de Minas, foi
dividida em duas etapas. Na primeira fase, os internautas elegeram, entre
169 jogadores, os maiores craques de América, Atlético, Cruzeiro e Villa
Nova. Foram computados 20.128 votos. Jair Bala (América), Reinaldo
(Atlético), Tostão (Cruzeiro) e Luizinho (Villa Nova) foram eleitos os
craques de cada clube e cada um receberá o troféu ESTADO DE MINAS.
A segunda etapa reuniu os
quatro craques para definir quem seria eleito o "Craque Mineiro de Todos os
Tempos". A eleição começou no último dia 21 e terminou no dia 05 de março ao
meio-dia. Foram computados 35.124 votos. Para evitar abusos, cada computador
registrava apenas um voto a cada meia hora ou a cada nova conexão. Reinaldo
ficou com 53,54% dos votos. Tostão ficou em segundo lugar, com 44,92%. Jair
Bala, do América, recebeu 0,95% das participações e Luizinho, do Villa Nova,
0,57%.
Como vencedor da segunda
etapa da promoção, Reinaldo receberá dois troféus do ESTADO DE MINAS. O
primeiro referente a eleição de "Craque de Todos os Tempos do Clube Atlético
Mineiro" e o segundo como "Craque Mineiro de Todos os Tempos". A entrega dos
cinco troféus será feita na festa comemorativa dos 74 anos do jornal ESTADO
DE MINAS e inauguração da nova sede, no próximo dia 07, quarta-feira.
Força atleticana
A eleição de "Craque
Mineiro de Todos os Tempos" foi um sucesso no número de participações pela
Internet e mobilização das torcidas do Cruzeiro e do Atlético. Na segunda
fase da promoção, Reinaldo e Tostão polarizaram a contagem dos votos. Os
dois juntos somaram 98,46% das 35.124 participações e protagonizaram uma
disputa emocionante.
No começo da promoção, no
dia 21 de fevereiro, Tostão saiu na frente. Mas aos poucos, os fãs de
Reinaldo reagiram e o craque do Atlético assumiu a liderança. No meio da
promoção, a diferença entre os dois jogadores chegou aos 12% pró Reinaldo.
Mas os cruzeirenses não deixaram por menos e durante o carnaval a diferença
chegou a apenas 4%.
A esperada virada
cruzeirense acabou não acontecendo. Os torcedores do Galo voltaram a
participar em massa, através de mensagens de apoio e manifestações nas
listas de discussão do clube na Internet.
Os últimos dias da eleição
provaram a força atleticana. No final de semana a diferença entre os dois
craques era de cerca de 1400 votos, ou 5%. Na manhã de hoje, por volta das
8h, a diferença entre Reinaldo e Tostão já era de 2460 votos. Entre às 8h e
o meio dia, horário de encerramento da eleição, quase 1000 votos foram dados
para Reinaldo, enquanto Tostão recebeu apenas 250 no mesmo período.
Artilheiro
José Reinaldo de Lima,
conhecido apenas como Reinaldo, é um dos maiores centroavantes da história
do futebol brasileiro. Começou a jogar aos 13 anos no Ponte Nova e vestiu a
camisa do Galo de 1973 a 85, conquistando oito Campeonatos Mineiros
(1976/78/79/80/81/82/83 e 85) com a camisa alvinegra. Foi o artilheiro do
Brasileiro de 1977, quando marcou 28 gols e disputou a Copa do Mundo em
1978.
Até 1985, Reinaldo encantou
os atleticanos, que vibraram com seus 255 gols e sofreram com as cinco
cirurgias (uma no tornozelo e quatro nos joelhos). O craque ainda atuou pelo
Palmeiras e por força do destino, ainda vestiu a camisa do Cruzeiro, seu
eterno rival, por duas vezes.
Antes de pendurar as
chuteiras, Reinaldo jogou no Hacken de Gotemburgo, da Suécia, e no Telstar,
da Holanda. Em 1990, elegeu-se deputado estadual. Atualmente, é presidente
do Belo Horizonte Futebol e Cultura, clube fundado por ele em 1991.
Reinaldo agradece à massa
pelo título
(Redação Uai) O Rei não
perde a majestade. Esta frase se encaixa bem na história do atacante
Reinaldo, eleito nesta segunda-feira o Craque Mineiro de Todos os Tempos. A
eleição, uma iniciativa do Estado de Minas e do Portal Uai, através da
coluna do Roberto Drummond, mexeu com os fanáticos torcedores mineiros e
principalmente os atleticanos, responsáveis pelos 18.808 votos que coroaram
Reinaldo.
Feliz e orgulhoso, Reinaldo
fez questão de agradecer à massa alvinegra pelo título. "Agradeço a todos os
torcedores que participaram. É maravilhoso. É impossível falar em Atlético
sem falar em sua torcida. Minha maior alegria é ser reconhecido pelo povo
mineiro", destacou Reinaldo.
O Craque Mineiro de Todos
os Tempos acha que o título se deve à alegria de seu futebol e
principalmente a relação carismática mantida com os torcedores. "As pessoas
me param nas ruas e agradecem pelas alegrias que eu as proporcionei. Isso
não tem preço. Muitos jogadores mereciam e tinham qualidade para vencer a
eleição, mas o diferencial foi o carisma".
Reinaldo fez questão de
agradecer o prêmio ao jornal Estado de Minas, ao Portal Uai e principalmente
ao colunista Roberto Drummond. "Gostaria de mandar um abraço especial ao
Roberto, que voltou com tudo ao jornal Estado de Minas e foi muito feliz
pela ideia. É um homem inteligente. Obrigado também ao Estado de
Minas/Portal Uai que cativa os mineiros de todo os Estado com informação de
qualidade".
O Rei dedicou mais essa
vitória à mãe, dona Maria Coeli de Lima, e aos filhos Daniel (19), Felipe
(17), Nina Flores (4) e Maria Vitória (2). "A alegria é de todos. Eles
tiveram alegrias comigo dentro de campo e tristezas fora. Nem por isso
deixaram de estar ao meu lado. Fomos abençoados".
Reinaldo receberá o Troféu
Estado de Minas na sede do jornal pelo título de Craque Mineiro de Todos os
Tempos. Tostão, Jair Bala e Luizinho receberão, respectivamente, os troféus
de maior craque de Cruzeiro, América e Villa Nova. (Bruno Furtado)
Acesse também:
http://www.joaobosco.com.br/release.asp
http://www.geocities.com/RainForest/9468/caldas78.htm
http://www.pontenova.com.br/fundacao.html