AS APREENSÕES DOS RECEPTORES DE T.S.F., EM 1915;

SEUS ANTECEDENTES:

 

     Portugal não esteve, nem está – como demonstrarei – aquém do progresso do estudo e do desenvolvimento das Ciências e das Artes Aplicadas da Electricidade.

     O ensino da Electrotécnica, e o desenvolvido estudo da Telegrafia Eléctrica – constituíram os antecedentes lógicos da mais profunda curiosidade pela Telegrafia Sem Fios.

      Não pretendo aprofundar, neste momento, o que tem sido propriamente a História da investigação sobre a electricidade em Portugal mas cumpre esclarecer que são bem antigos, inclusivamente, os livros portugueses que ao assunto desenvolvidamente se referem.

      Assim é de 1883, por exemplo, um descriminado trabalho do então Major de Infantaria Augusto C. Bom de Sousa intitulado “ Memória sobre a Telegrafia Eléctrica Militar na Exposição de  Electricidade em Paris, 1881 “, Seguida de um “ Tratado de Telegrafia de Sinais para uso no Exército “  - tudo publicado pela pela própria Imprensa Nacional de Lisboa.

     E já em 1892 a mesma Imprensa Nacional publicava, também uma interessantíssima memória, apresentada pelo Engº. e Lente Catedrático, Paulo Benjamim Cabral, Inspector-Geral dos Telégrafos, ao “Congresso Pedagógico Hispano-Português-Americano.”

     Tal memória intitula-se, precisamente, “ O Ensino da Electrotecnia em Portugal” e foi publicada – conforme referi – em 1892…

     Em Portugal, tal como noutros países, a Telegrafia Óptica precedeu, de muitos anos, a Telegrafia Eléctrica.

     A primeira organização regular de que parece haver notícia oficial – quanto à telegrafia Óptica – data de 1809, durante a Guerra Peninsular.

     O Telegrafo sofreu depois sucessivas reorganizações – até que, por Contrato de 26 de Abril de 1855, com a Casa Breguet, foi estabelecida a instalação de estações telegráficas no nosso país, sendo os aparelhos a empregar Breguet e Bain.

     Mais tarde – em 1856, na Áustria, Prússia e Suíça, e em 1858, em França – foram, na Europa substituídos aparelhos europeus adoptados, pelo Telégrafo de Morse, e Portugal acompanhou igualmente o progresso europeu presumivelmente ao mesmo tempo que a nação francesa, sendo certo, porém, que, em 1860, já diversas estações portuguesas se encontravam equipadas com os aparelhos do sistema Morse.

    Do mesmo modo e sempre a par do constante progresso europeu e americano, já em 1894 se publicava entre nós um verdadeiro tratado de Telegrafia Eléctrica, em três volumes editados no Porto – e que seu ilustrado autor, Jorge da Cunha, Primeiro Oficial Chefe dos Serviços Telegráficos da Cidade do Porto, e Instrutor da Escola Prática de Telegrafia, anexa aos mesmos Serviços, qualificou com a mais exemplar modéstia, como simples “ Livro Elementar de Telegrafia Eléctrica “…

     Com tais antecedentes científicos   no ensino e n prática da Telegrafia Eléctrica no nosso país – não admira como logo foram numerosos, também, os cultores e entusiastas da Telegrafia sem Fios em Portugal …

      Em 1907 já o notável escritor Amadeu de Vasconcellos  -  autor de numerosas obras de divulgação científica dos começos deste século – dedicava o volume II do seu trabalho “ Actualidades Científicas “ às maravilhas de  “ A Telegrafia Sem Fios “.

      E a partir de 1909 surgiu -  conforme já o referi oportunamente  -  a interessantíssima publicação intitulada “ Electricidade e Mecânica”, da autoria do Sr. Engº. Luís de Sequeira Oliva Júnior, e um dos mais poderosos incentivos da T.S.F. em Portugal.

      Assim, bem se compreende como já eram relativamente numerosos, em 1915, não só os entusiastas portugueses da T.S.F. -  como também os possuidores dos próprios aparelhos detectores dos misteriosos sinais da Telegrafia Sem Fios …

       E as diligências das autoridades de Lisboa procedendo nesse referido ano à apreensão dos aparelhos receptores de T.S.F. que conseguiram localizar – não foram, evidentemente, determinadas nem por uma incompreensão para com os amadores Rádio-Escutas da T.S.F., nem pelo menosprezo das indiscutíveis vantagens de poder dispor o País de um núcleo de práticos e de conhecedores de telecomunicações.

         A verdadeira razão da momentânea “selagem” dos Postos de T.S.F., em 1915,residiu – conforme veremos – na mais imperiosa necessidade, de interesse internacional, e pode dizer-se que mundial, da manutenção do estrito e rigoroso sigilo com que se procedeu            à preparação da Marinha de Guerra Portuguesa, para fazer face às contingências internacionais da intervenção de Portugal, em defesa da sua multi-secular Aliada, a Grã-Bretanha, na Primeira Grande Guerra de 1914 a 1918.

            Foi a íntegra e correcta lealdade com que Portugal acedeu, em cumprimento da Aliança Luso-Inglesa, a prestar aos aliados britânicos o solicitado auxilio, em 1915 e 1916, - que determinou a necessidade da supressão meramente provisória dos Postos de T.S.F. dos Radioamadores em fins de Julho de 1915 …

 

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