O sonho
e o vento
Se me perguntassem um
dia por que eu comecei a velejar eu diria que pelo mesmo motivo que eu
gosto de andar de bike ... sentir o vento no rosto sem nenhum ruído
de motor. A um bom tempo atrás, olhando o movimento de lanchas
em frente a praia, pensei ... deve ser muito bom estar lá para
traz da arrebentação em um barco, deve dar uma sensação
de paz e isolamento incrível ... mas olhando o movimento das embarcações
com a proa batendo contra as ondas pensei ... será que o barulho
constante do(s) motor(es) não incomodam?
A resposta a esta pergunta
descobrimos algum tempo depois, quando fomos conhecer o arqupélago
de Abrolhos no sul da Bahia, na companhia de um casal de grandes amigos
e saímos com uma lancha para conhecer e fazer um mergulho no arquipélago,
estavamos em uma flotilha de 4 ou 5 lanchas, nós embarcamos em
uma Cabrasmar 32 e não pudemos conversar normalmente devido ao
barulho dos dois motores de centro a diesel da embarcação,
que navegava em torno de 25 knots em toda a travessia. Só quando
chegamos no 1° point de mergulho é que conseguimos voltar a
conversar sem berrar, outro problema era o cheiro de diesel quando a lancha
ficou com os motores ligados por algum tempo, parada em um dos fundeios,
que fizemos para mergulhar nas formações de corais aguardando
que uma das lanchas fosse rebocada pois estava com problemas mecânicos.
Nós percebemos
que a beleza de navegar trazia alguns desconfortos devido ao ruído
dos motores de grande potência das lanchas ... ao mesmo tempo vimos
vários veleiros fundeados em uma área próxima a Ilha
de Santa Bárbara no arquipélago e ficamos pensando como
seria chegar num lugar como aquele apenas movidos pela magia do vento...
Acho que o meu sonho de
velejar começou após esta experiência, passei a prestar
mais a atenção nos assuntos voltados a vela e acompanhar
os valores de veleiros a venda que eu descobria em publicações
e em visitas a algumas marinas no litoral de SP. Experiência interessante
a de procurar um veleiro a venda, claramente percebesse o quanto a derrubada
da industra nacional afetou este mercado, a flotilha brasileira esta reduzida
a uma dúzia de modelos que já não são mais
fabricados mais meia dúzia que são hoje fabricados por encomenda,
encontra-se veleiros de 23 a 26 pés e de 36 a 42 pés, a
faixa dos 30 pés é um ufa! para se encontrar embarcações
em boas condições de manutenção e que seus
proprietários realmente estejam a fim de vende-las, pois sabem
que a compra de uma outra em boas condições será
muito difícil.
Assim, fiquei ligado cerca
de um ano a idéia de construir um veleiro de 34 pés, projetado
pelo Cabinho e de aço, projeto que pelas minhas contas consumiria
de 3 a 4 anos, que seria ideal para o número de detalhes, fluxo
de caixa e idade de meu filho para poder acompanhar as velejadas após
o final da construção. Acompanhando as listas de discussões
destes construtores na internet dentro do Yahoo Groups (yachtdesign e
altomar) aprendi uma s'rie de coisas e fiz alguns contatos que me permitiram
visitar algumas construçoes em andamento no Guaruja e em Ubatuba.
Em uma destas visitas
que combinei acabei por conhecer um velejador chamado Marcelo Brasil e
sua esposa Katia que estavam construindo a parte de calderaria do Serenata
um MC 34 em Santos e através deles conhecemos o Marçal Ceccon
e sua esposa Eneida que nos indicaram um outro casal, Dieter e Graça
que nos deu um curso de vela oceânica, inclusive com a participação
de um tripulante de apenas 2 meses de idade na época, meu filho
Arthur.
Assim, foi nossa entrada
para este mundo paralelo dos velejadores, fizemos vários amigos
que frequentavam a Marina da Supmar no Guarujá, como o Gerson e
a Lúcia e o Felipe e a Branca (acho
que neste ponto já dava para perceber que velejar é um esporte
e as vezes, um estilo de vida para alguns, que tem muito a ver com casais
e também com seus filhos)
Era isto que de alguma
maneira estavamos buscando, um grupo de pessoas que curtiam criar projetos
de vida e viagens de uma maneira singular, não tendo nada a ver
com o modo de vida da maioria das pessoas de terra e suas preocupações.
Tomamos algumas providências
de ordem prática quando decidimos que iamos seguir neste rumo,
isto mesmo, eu e minha esposa Glauce decidimos em conjunto, que a primeira
coisa era batisar nosso filho na Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes
em Santos, para garantir a proteção para sempre de nosso
"tripulinha" pelos mares.
E por intermédio
de nosso amigo Dieter, que conhecia o Paulo, proprietário de um
Cruiser 31 que queria vender, em Novembro de 2001 compramos nosso barco,
arrumamos umas coisinhas de pintura e ferragens e passamos a velejar no
Levante.
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