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TELHA DE VIDRO - Raquel de Queiroz
Quando a moça da cidade chegou,
veio morar na fazenda
na casa velha tão velha...
Quem fez aquela casa foi meu bisavô
Deram-lhe para dormir a camarinha
Uma alcôva sem luzes, tão escura !
Mergulhada na tristeza de sua treva e de sua única portinha
A moça não disse nada
Mandou buscar na cidade uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
uma camarinha sem claridade.
Agora é o quarto mais alegre da fazenda
tão claro, que ao meio-dia
aparece uma renda de asalescas de sol.
Nos ladrilhos vermelhos, que coitados , tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia .
A lua branca é fria, também se mete as vezes
pelo clarão da telha milagrosa...
Ou alguma estrelinha, audaciosa, careteira
no espelho onde a moça se penteia...
Que linda a camarinha !
E era tão feia !
Você me disse um dia que sua vida
era toda escuridão cinzenta, fria,
sem um luar, sem um clarão ...
Por que você não experimenta ?
A moça foi bem sucedida...
Ponha uma telha de vidro
em sua vida !...
Com a nosso profundo respeito a grande escritora cearense Rachel de Queiroz.
Esta poesia nos foi dada pela prima da autora, quando de nossa visita ao Projeto de Assentamento Califórnia,no município de Quixadá - Ce , no dia 02.09.1995 .