AOS RADIOAMADORES NORTE-AMERICANOS - É ATRIBUÍDA A "TERRA DE NINGUÉM" DOS 200 METROS

Existindo Radioamadores Americanos, como aliás Europeus, já antes da deflagração da Grande Guerra de 1914 a 1918, e concluindo o Governo Americano que os comprimentos de onda inferiores a 200 metros eram insusceptíveis de comunicações a grandes distâncias - foram exactamente os atribuídos aos Radioamadores Norte Americanos, pelo "Wireless Act" de 1912.

Esta falta de visão, inicial, do Governo Norte-Americano, relativamente ao valor nacional e internacional do Radioamadorismo - tem aí ias sido largamente compensada, na actualidade, pelo apreço e protecção que os Estados Unidos da América do Norte muito justamente atribuem ao Radioamadorismo, fomentando redes e serviços de emergência, e facilitando estações móveis e portáteis de Radioamadores, imprescindíveis em casos de urgência e de calamidades públicas.

Naquela época estava-se, porém, no limiar desta perturbante descoberta, do mais elevado interesse público, - as Estações de Amadores multiplicavam-se e interferiam entre si, e como os próprios serviços oficiais, e o Governo Norte-Americano considerou mais útil relegar os Radioamadores para o domínio "estéril" dos comprimentos de onda inferiores; a 200 metros, do que permitir-lhes um legítimo desenvolvimento, ainda que condicionado.

Assim, conforme nos conta o Radioamador Sr. Donald L. Stoner, titular da Estação Americana W6TNS, no seu ínteressantíssimo trabalho publicado no número de Outubro de 1960 da revista norte-americana "Popular Electronics", "as interferências resultantes da multiplicação das estações" deram origem à necessidade de uma regulamentação oficial da T.S.F., que teve lugar pelo "Wireless Act" de 1912, ou seja a Lei Americana da T.S.F., de 1912.

O Governo ficava, segundo esse diploma legislativo, com o controlo de todas as estações transmissoras, todos os operadores de T.S.F. careciam de autorização oficial por meio de uma licença, e - conforme expressamente o consigna o referido autor Sr. Stoner - "os Amadores foram relegados para a terra-de-ninguém dos comprimentos de onda inferiores a 200 metros"...

Foi tão errada a visão inicial sobre o radioamadorismo, por parte da entidade que determinou o "Wireless Act», de 1912, que o "The Radio Amateur's Handbook" ainda na sua edição de 1936 acentuava a frase governativa em toda a sua incompreensão: - "Os Radioamadores? Oh, sim bem: preguem com eles nos 200 metros; não prestam para nada; nunca mais passarão das traseiras dos quintais!»...

Ainda não existia nos Estados Unidos da América do Norte a "Radio Amateur's Relay League", que só veio a organizar-se em princípios de 1914, - e, quer o governo americano, quer a própria massa associativa dos Radioamadores de todo o mundo, têm feito modificar aquela opinião inicial sobre o radioamadorismo.

Segundo o têm notado, e bem, sucessivas edições daquele mesmo 'Radio Amateur's Handbook", que desde 1926 se publica como verdadeiro ''Manual'' da própria ''Radio Amateur's Relay Leaque - 4000 amadores norte-americanos serviram a Pátria como peritos em T.S.F. na Grande Guerra de 1917-1918- e enquanto 25.000 serviam nas Forças Armadas dos Estados Unidos, na Segunda Grande Guerra Mundial, outros milhares, eram destinados a tarefas relacionadas com a investigação electrónica vital para o País, ou organizavam e integravam o Serviço Radioeléctrico-de Emergência de Guerra, como bem se acentua na edição de 1962.

Assim, aquela frase que ainda em 1936 e 1945 era integralmente reproduzida pelo "Handbook" - mereceu, e bem, o "adoçamento'' que em sucessivas edições mais modernamente se lhes atribui...

Hoje, a frase é já bem outra - e perdeu portanto o seu sentido inicial, aparecendo-nos, por exemplo, na tradução, em Castelhano de 1962, da seguinte forma:

"0 ponto de vista oficial que mereciam os radioamadores era, em alguns casos, como este: - Radioamadores?... Oh! Sim Encontrá-los-á pregados em 200 metros e mais abaixo, e nunca chegam para além das traseiras das casas com seus comunicados...»

Simplesmente, em 1912, a quando do 'Wireless Act" americano - ainda se não tinham verificado quaisquer comunicações intercontinentais, de radioamadores entre si, - e assim, era o radioamadorismo francês o que maior influência exercia nos estudiosos portugueses da T.S.F.

Observaremos, a seu tempo, ainda que com a inerente brevidade, o que se passava em França, com o radioamadorismo francês, entre 1912 e a deflagração da Grande Guerra de 1914. Antes, porém, vejamos como surgiu a Regulamentação Portuguesa, que é de 1916.

(c) A.R.A.S.